I – O sinal como forma de comunicação

1 – Os seres humanos vivem em sociedade e realizam-se, como seres humanos, em sociedade. Para isso precisam de comunicar entre si, seja por palavras, seja por gestos, por sinais ou por símbolos.

Cada povo tem a sua cultura própria, a sua linguagem, os seus símbolos os seus sinais de comunicação, acessíveis aos membros desse grupo cultural, ainda que nem sempre perceptíveis a outras comunidades de culturas diferentes. E, se a comunicação por palavras nem sempre é fácil, menos acessível é, porventura, a linguagem dos sinais.

Também a Igreja, espalhada pelo mundo inteiro e aberta a todas as culturas humanas, tem os seus símbolos, os seus sinais, que importa aprender a decifrar. Vamos tentar dar um pequeno contributo para a interpretação de alguns dos nossos sinais cristãos.

2 – Um sinal é uma referência a uma outra realidade distinta de si. Queremos, com isto, afirmar que uma das características de qualquer sinal é o facto de ele conseguir estabelecer uma relação com a realidade significada. O sinal não pretende fazer as vezes da própria realidade, mas a sua apetência para apontar para a realidade significada, diz-nos algo dela própria. Para isso, porém, o sinal tem de revestir-se de algumas propriedades imprescindíveis, tais como a relação e a transparência.

Se não houver uma relação natural entre o sinal significante e a coisa significada, a aproximação é artificial, e torna-se difícil estabelecer uma relação entre si. Neste sentido, podemos considerar que a comunicação, por sinais, implica sempre esta certeza: os sinais são relativos, ou seja, estão sempre em função da coisa significada, e nunca em função de si mesmos. Por vezes, porém, os sinais nem sempre manifestam, com clareza, essa relação natural. Nesse caso, é mais difícil captar o seu nexo. Teremos, então, de consultar a história da atribuição de um tal significado.

Mas o sinal, para ser verdadeiro sinal, deve ser transparente.

Ao evocar algo distinto dele, o sinal ou é transparente ou não é verdadeiro sinal. Se não houver transparência nos sinais, tais sinais não serão sinais de nada, e, por isso, carecem de significado.

Diríamos que um sinal, enquanto sinal, tem a vocação de ser significante da realidade significada. Se no sinal não houver transparência para apontar na direcção do que se pretende significar, o sinal não é sinal. Diríamos que o sinal é uma espécie de «sombra» de um objecto, mas uma sombra, através da qual, há que descobrir o objecto. A sombra de uma casa não é o mesmo que a sombra de uma árvore, nem da sombra de um animal ou de outra coisa qualquer. Pela «sombra» há que descobrir o objecto que nela se projecta.

*Bispo Emérito do Algarve