A simbologia bíblica do "óleo"

O óleo, feito do fruto das oliveiras, é muito usado pela Igreja, nos seus gestos rituais e sacramentais. Ela não o faz por mero acaso, nem apenas porque se lembrou disso. Inspirada nas Escrituras, a Igreja foi aí buscar a justificação para o seu uso. Vejamos alguns desses fundamentos bíblicos:

1 – Desde tempos muito remotos que o azeite se tornou um bem muito rico e significativo no quotidiano da vida do Povo hebreu, ou não fosse ele um dos produtos principais da «terra da promessa», e símbolo da abundância e da riqueza daquela terra, no imaginário de um povo peregrino em pleno deserto.

Era usado no alimento e servia de combustível para iluminar. E também se utilizava no tratamento de algumas feridas.

Mas, este óleo era também aplicado, em circunstâncias especiais, revestidas de profundo sentido simbólico para todo o povo. Baste-nos lembrar que, com ele se faziam perfumes (Cf.Sal.133,2), com ele se ungiam os reis (1Sam.10,1; 16,12-13; 1Rs.1,39) e se ungiam os sacerdotes (Cf.Êx.29,7).

2 – Porém, a importância máxima atingida por este produto da oliveira, deu-se, sobretudo, pelo seu significado messiânico. De facto, desde tempos imemoriais que o Povo judeu esperava um «Messias», ou seja, um «Ungido» de Deus que viesse salvar o Povo, por Deus escolhido. Identificado um tal «Messias» com a Pessoa de Jesus de Nazaré, o Povo cristão dos primeiros tempos soube atribuir-lhe esse título e designar Jesus como «o Cristo», ou «Messias», que significa «Ungido». Portanto, ninguém como o próprio Jesus está relacionado com a «unção» que, no seu caso pessoal, transcende a «unção do óleo» para se tornar uma «unção interior operada pelo Espírito Santo», embora simbolizada em realidades terrenas, como o óleo e outros elementos. Assim, quando Jesus foi baptizado por João, no Jordão, o Espírito Santo desceu sobre Ele (Cf.Mt.3,13-17) que tinha sido concebido no seio de Maria, por acção divina do Espírito Santo (Cf.Mt.1,21); quando começa a pregar, proclama, citando Isaías, que o Espírito Santo desceu sobre Ele e O «ungiu» (Cf.Lc.4,18.21); Pedro, no seu discurso, em dia de Pentecostes afirma que Deus constituiu Jesus como «Senhor e Messias (Act.2,36). Jesus é, pois, o «Ungido» por excelência, porque a sua «unção» é uma total e plena identificação divina: «Ungido pelo Espírito Santo» fica identificado com Deus em sua natureza humana. Aliás, esta relação da «unção» com o Espírito, já tinha sido feita nos tempos que se seguiram ao exílio de Babilónia (Is.42,1-9; 1,1; Sal.89,21-22). Jesus não é um «ungido» qualquer; Ele é «o Ungido». Veja-se para confirmação do que acaba de ser dito: Lc.1,26-35; Jo.10, 22-38; Mt.17, 2-8). É por tudo isto, temos um sacramento, no qual a «unção» com o óleo exprime o dom do Espírito. É o «Crisma».

*BISPO EMÉRITO DO ALGARVE