IV – O sinal da água (b)

1 – A água, sinal do Espírito Santo

De entre as muitas realidades simbolizadas, nas Sagradas Escrituras, pela água, uma das mais ricas e expressivas é a Pessoa do Espírito Santo. O Evangelista João, fazendo-se eco disso mesmo, di-lo assim: "No último dia, o mais solene da festa, Jesus, de pé, bradou: se alguém tem sede, venha a mim; e quem crê em mim que sacie a sua sede! Como diz a Escritura, hão-de correr do seu coração rios de água viva" (Jo.7,37-38). E o Evangelista acrescenta: "Ora Ele disse isto, referindo-se ao Espírito Santo que iam receber os que cressem nele" (Jo.7,39).

O contexto deste dito de Jesus, interpretado por João, é o da festa das Tendas, assim chamada porque o Povo, enquanto a festa durava, vivia em tendas, recordando o tempo que passou no deserto. Era a festa das colheitas. Começou por ser a festa das vindimas e transformou-se em festa da fecundidade e das primeiras chuvas.

Em cada um dos dias da festa, o Sumo Sacerdote trazia, em solene procissão e numa jarra de oiro, água da piscina de Siloé, com a qual aspergia o altar do templo, a fim de recordar a água prodigiosa do Mar Vermelho, através da qual o Povo foi liberto e salvo, pedindo a Javé a chuva abundante para a terra. É neste enquadramento que Jesus pronuncia as palavras sobre a água viva, acima citadas. Jesus já falara, anteriormente dessa água viva (Jo.4,10). Agora, e segundo a interpretação inspirada de João, fica claro que essa água viva é o Espírito Santo que Jesus promete dar a quem nele acreditar.

2 – Desde tempos imemoriais, Deus tinha preparado este mistério

Recordemos algumas passagens bíblicas, nas quais se desenhava já, de tempos longínquos esta água viva, oferecida por Jesus à humanidade. Logo no início da criação, relatada na Escritura, está escrito: o Espírito de Deus movia-se sobre a superfície das águas (Gén.1,2). O Autor sagrado relaciona o Espírito de Deus e ás águas!

Mais tarde, o Profeta Ezequiel descreve-nos uma nascente de água que brota de debaixo do altar (Ez.47,1-6) que forma uma enorme torrente a qual, onde chega, produz vida, saúde e torna tudo salubre, e a "vida desenvolver-se-á por toda a parte onde ela chegar" (Cf.Ez.47,7-9), e (haverá) frutos novos porque a água vem do santuário (Cf.Ez.47,10-12). Novamente, estão em relação: Deus, simbolizado no santuário, e a água que produz vida nova por toda a parte, pela acção de Deus que se serve da água, para obter esse efeito.

Quando Jesus foi baptizado, no Jordão, diz o Evangelista: "Vi o Espírito que descia do céu, como uma pomba e permanecia sobre Ele" (Jo.2,32). Mais uma vez, as águas e a presença actuante do Espírito! No diálogo de Jesus com a samaritana, Jesus promete dar uma água, bebendo a qual, não teremos mais sede, porque jorra para a vida eterna (Cf.Jo.4,1-14). Que água poderá ser esta, senão o próprio Espírito? Deus, ao revelar-nos os seus mistérios, serve-se da água, como imagem e instrumento, para nos falar do Espírito Santo e no-lo comunicar. Por isso é que somos baptizados na água e no Espírito Santo.