O que para nós portugueses é difícil compreender é, simplesmente, uma verdade histórica: as fronteiras dos países europeus estão em discussão desde sempre.
Essa discussão pode cingir-se a um pequeno rochedo no mediterrâneo, disputado por Marrocos e Espanha, mas na posse do Reino Unido, ou a riquíssima e estratégica zona da Crimeia, no Mar Negro, disputada pela Ucrânia e a Rússia (sob a capa de estados independentes), desde há longos anos.
Por serem zonas circunstanciais e sem conflito armado, ou em conflito armado, mas longínquas, ninguém valorizou tais situações, até ao presente momento, no qual vivemos a invasão da totalidade da Ucrânia pela Rússia.
Para os portugueses, sobretudo, este estado de “ignorância” de tal tipo de tensões é normal. Tirando a questão de Olivença, que só é falada pelo Nuno da Câmara Pereira, ou por outros saudosista anacrónicos, “ninguém”, neste nosso cantinho à beira-mar plantado, que tem fronteiras estáveis há mais de oito séculos, pensa conquistar províncias a Espanha.
Acredito, aliás, que se houvesse um referendo em Portugal a questionar-nos se devíamos ser mais uma província espanhola, o resultado podia ser uma surpresa para os mais nacionalistas, pois as questões económicas, entre outras, talvez pesassem bastante na decisão de muitos votantes.
Porém e voltando à guerra que estamos a viver, quero ter a esperança de que aquilo que temos assistido nos últimos dias revela o que é, verdadeiramente, o sentimento de pertença europeu, algo que andava esquecido e pelas ruas da amargura, devido ao tacticismo político e económico. A Europa só tem a ganhar se estiver toda unida e se utilizar a sua força em prol de todos os cidadãos, daqueles que nasceram cá e daqueles que, não nascendo cá, desejam habitar e desenvolver-se humanamente no nosso território. Afinal, não pode ser a cor da pele, ou a origem o que distingue bons de maus refugiados! Só todos juntos, aprendendo com as nossas diferenças, riquezas e pobrezas, podemos viver em paz, crescendo de forma verdadeiramente humana e, também, economicamente. Agora, todos estamos a precisar de todos e é verdadeiramente verdade que, nesta hora, a união faz a força, uma união que sendo efetiva nos pode conduzir a um fim pacífico deste conflito e não à catástrofe de uma III Guerra Mundial. Nunca a fronteira com a Polónia, ou a Eslováquia esteve tão perto de Portugal e com tanta implicação no nosso dia-a-dia.
Se defendo o federalismo europeu? Porque não? Se for melhor para todos nós, europeus nascidos em diferentes lugares, qual será o mal? O importante é perceber que o que nos distingue não é o lugar onde nascemos, mas o objetivo com que vivemos e a capacidade que temos de, olhando verdadeiramente para o centro de nós, o coração (como dizia Exupéry), nos irmanarmos na construção de uma Europa, de um mundo melhor para todos. Seremos daqueles que querem ser superiores aos outros? Ou somos dos que querem, para todos, aquilo que desejam para si, como diz o Evangelho?
Eu não tenho problemas em dizer: são todos bem-vindos, desde que venham pela paz e pelo bem.