(quando a dor dos outros nos toca)

“– Faz-me muita, muita falta, a minha mãe como era. A mãe que eu tinha não é esta, está tão fragilizada, tão diferente. Preciso tanto dela, da sua força, dos seus conselhos”.

E o choro sentido evidenciou o sofrimento, a tristeza, o cansaço. Eu, que a tinha apanhado de fugida e que brinquei, em jeito de saudação, assim que a vi, fui surpreendida pela sua reação e não fiz mais que abraçá-la e tentar dar-lhe força, ali, num muro frio, exterior ao hospital, sentindo o peso enorme e o gosto amargo que aquele edifício e tudo o que significa, pode ter.

Apeteceu-me dizer-lhe que pode resignificar o amor. Que pode deixar-se levar pela imensidão do que sente pela mãe e pela solidez dos alicerces que a relação das duas tem, para conseguir vê-la agora assim e aceitá-la, nesta fragilidade que a doença trouxe. Apeteceu-me dizer-lhe que não será (nem é) fácil, mas que pode ser um caminho. Apeteceu-me dizer-lhe que no toque, na voz, na presença, a mãe continuará a senti-la, a vê-la, mesmo que não interaja como antes. Apeteceu-me dizer-lhe que o problema de saúde que afetou a mãe, ainda não lha levou de si, ainda pode estar com ela, ainda tem a dádiva de a ter consigo. Apeteceu-me dizer-lhe tanta coisa, até que o pouco contacto que tenho com ela, não interessa para nada, pois ali, naquele momento, consegui “calçar os seus sapatos” e perceber o que ela estava a sentir: aquele buraco negro enorme que fica, quando falta, mesmo ainda em vida, o colo da mãe.

Não teria valido de nada dizer-lhe tudo isso. Há momentos maiores que nós, que nos esmagam só porque sim. Mas ficam por aqui, gritadas, as palavras que não lhe disse. Espero e desejo que tenha percebido, pelo abraço que trocámos, tudo aquilo que não lhe disse.

Quem sabe possa ter sido um abraço de mel.