
Os alunos da disciplina de Educação Moral Religiosa Católica (EMRC) das escolas EB 2.3 Dr. Joaquim Magalhães e D. Afonso III de Faro uniram-se aos da escola básica Manuel do Nascimento de Monchique na passada terça-feira para os ajudar a ultrapassar a experiência traumática do incêndio do verão passado e para tomarem conhecimento daquilo que eles viveram.
A iniciativa, intitulada “Com Monchique no Coração” e promovida pelos professores de EMRC daquelas escolas, mobilizou cerca de 240 alunos dos três estabelecimentos de ensino e de 24 docentes de várias disciplinas.
A professora de EMRC das escolas de Faro explicou ao Folha do Domingo que a ideia surgiu quando o incêndio teve início, em agosto do ano passado, mas só começou a ganhar corpo no mês seguinte, quando contactou a colega da escola de Monchique na primeira reunião dos docentes da disciplina do presente ano letivo. “Ao mesmo tempo que percebi que as pessoas ficaram muito fragilizadas, surgiu a ideia de trazer aqui os miúdos ao encontro dos de Monchique”, explicou Rosária Pacheco.
“O objetivo é trazer o «coração» a Monchique e dizer a esta população que estamos aqui, que não estão esquecidos e que ficámos sensíveis com tudo aquilo que passaram. Procura-se esse contacto com a população, trazer alegria e amor, que é outra forma de fazer solidariedade, não apenas com bens materiais”, sustentou, acrescentando que o “dia de partilha” visou também “aproveitar para sensibilizar para os problemas ambientais” e para as atitudes a tomar face ao fenómeno das alterações climáticas e os fogos, para que os seus alunos “se tornem cada vez mais sensíveis a esta temática dos incêndios”.
A professora de EMRC da escola de Monchique acrescentou que este contacto é fundamental porque os seus alunos “tinham muita necessidade de falar (…) para transmitirem os sentimentos, aquilo que viveram e as emoções que sentiram”. “Quando cheguei à escola, no início do ano letivo, todos os meus 92 meninos tinham uma história diferente para contar sobre o incêndio”, recorda Lúcia Costa, garantindo que “ainda hoje eles se emocionam”.

A docente realça assim o benefício psicológico da iniciativa, acrescentando que “os alunos de Monchique precisam de ter meninos da idade deles que não passaram por esse trauma com quem possam partilhar a experiência”. “Falar dos traumas que vivemos, ajuda-nos a ultrapassá-los”, considera, acrescentando que também os colegas de Faro saem enriquecidos porque “começam a ter conhecimento do que se vive numa situação destas”.

Aos alunos das três escolas, que começaram o dia reunidos no heliporto municipal, Lúcia Costa adiantava que o dia seria pautado descobrirem “como agir nos incêndios”.
Os estudantes foram depois distribuídos por grupos identificados com uma espécie autóctone da flora. Acompanhados por um professor, começaram por realizar uma dinâmica de conhecimento pessoal e depois partiram para a recolha de informações junto da população local, mas também de cinco entidades. Nos bombeiros voluntários foram recebidas pelo comandante Rui Lopes e restante corporação, na paróquia pelo padre Tiago Veríssimo, na Unidade de Cuidados na Comunidade pela enfermeira Patrícia Carneiro, na Junta de Freguesia pelo presidente José Gonçalo, na Plataforma ‘Ajuda Monchique’ pelo seu fundador Luís Furtado e também pelo presidente da Câmara Municipal, Rui André.
Depois do almoço, o plenário com apresentação das conclusões e dos testemunhos foi feito no jardim da vila e o dia prosseguiu com a formação de um «coração humano», símbolo da atividade, na escola básica Manuel do Nascimento. Os alunos integraram ainda o laço azul humano feito em várias escolas do país e também naquela – que assinalou a conclusão do Mês de Prevenção dos Maus-tratos na Infância e Juventude, relembrando a responsabilidade coletiva para a prevenção dos maus-tratos – e a jornada encerrou-se com a plantação de um medronheiro no recinto da escola, como símbolo da importância da reflorestação da serra, e a colocação da placa de identificação da atividade.