Foto © Terra Ruiva

A Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines, terra natal do historiador Teodomiro Neto, homenageou-o no passado dia 15 deste mês, com a atribuição do seu nome a uma rua daquela vila.

A artéria Teodomiro Cabrita Neto fica junto à urbanização Farinha, perto dos Bombeiros Voluntários.

No dia 15 de junho, após o descerramento da placa toponímia, com a ajuda da esposa e de um dos netos do homenageado, a cerimónia prosseguiu na sede da Junta de Freguesia.

A presidente da autarquia, Carla Benedito, destacou o seu “vibrante percurso de vida iniciado na aldeia de São Bartolomeu de Messines, repartido por vários cantos do mundo e finalmente ancorado na cidade de Faro”.

Homem das letras, das artes, da história, da cultura, Teodomiro Neto é tido atualmente como um dos mais prestigiados historiadores da temática regional que se tem dedicado em particular à história da cidade de Faro. Para além de historiador é também jornalista, dramaturgo, ensaísta.

Nascido em São Bartolomeu de Messines a 20 de setembro de 1938, aos dezasseis anos foi para Faro completar estudos, onde trabalhava de dia e estudava à noite. Foi leitor na Aliança Francesa e explicador de várias matérias. Do contacto com Arnaldo Vilhena, médico intelectual e anti-salazarista, resulta em 1958 a oportunidade de começar a colaborar no semanário “O Algarve” como publicista.

Escreveu e escreve em diversos outros órgãos de imprensa, entre os quais o “Correio do Sul”, o “Jornal do Algarve”, o “Diário de Notícias”, o “Barlavento”, o “Jornal de Letras”, o “Olhanense” ou o messinense “Terra Ruiva”. A colaboração com o Folha do Domingo teve início em 1992.

Foto © Terra Ruiva

O desenvolvimento do seu trabalho jornalístico tornou-o alvo da PIDE em 1962, decidiu sair do país. Iniciou então um longo percurso de estudo e de trabalho em diversas cidades da Europa e também do Norte de África. Exerceu diferentes profissões, licenciou-se em História e doutorou-se em História Política Europeia.

Em França desenvolveu atividade literária e jornalística, escrevendo para os jornais “La Gazette de Genéve”, “L’Espoir” e “Aujourd’hui”. Publicou, também em língua francesa, os seus primeiros livros. Nos contactos profissionais e de amizade estabelecidos teve oportunidade de privar com personalidades como o pintor Pablo Picasso.

Em 1974 regressou a Portugal, mas a sua carreira e o reconhecimento profissional chamaram-no de volta às universidades e consequentemente a França, onde lecionou até à jubilação, com a sua vida dividida então entre Faro e Saint-Étienne.

Para além da parceria intensa com a imprensa nacional e regional, este período ficou ainda marcado pela colaboração assídua com os Anais do Município de Faro entre 1977 e 2009 e pela publicação de cerca de três dezenas de obras em português e francês, algumas com traduções para inglês e alemão.

O seu talento e ação realizada foram reconhecidos através da atribuição de vários prémios como o Prémio Nacional do Teatro, o Prémio de Imprensa Samuel Gacon, o Prémio Infante D. Henrique, o Prémio Internacional de Imprensa ou o Prix Antoine Guichard. Em 1993 foi agraciado pela Câmara de Faro com a Medalha de Mérito – Grau Ouro.

A Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines distinguiu-o em 2009, juntamente com outras 22 personalidades, na exposição “Notáveis Messinenses: Vivências e Contributos”. Aquela terra que o viu nascer deve-lhe ainda o impulso para a constituição da Casa Museu João de Deus e a doação de parte da sua biblioteca particular.

O homenageado começou por lembrar a primeira entrevista que fez em 1959 ao médico Emiliano da Costa. “Foi uma grande dificuldade nessa altura um jovem pretender escrever”, constatou, numa invocação aos tempos da ditadura mantida pela PIDE.

“Estar aqui é bom, é agradável. Estou muito contente de estar hoje na minha terra. A minha terra é muito querida. Vivi aqui uma parte da minha juventude. Foi uma vida interessante. Valeu a pena. Valeu a pena porque eu não sou homem para desistir das coisas”, declarou.

O messinense deixou ainda claro que a atribuição de toponímia se deveu à vontade dos seus conterrâneos. “Quero vos informar que se está ali naquela rua o nome de Teodomiro é porque foi escolhido pela população aqui nesta casa em votação”, afirmou, numa informação confirmada pela jornalista Paula Bravo, diretora do periódico “Terra Ruiva”. “Foi uma reunião muito participada. Estavam aqui dezenas de pessoas. Foi feita uma lista de sugestões que foram apresentadas à Junta. É uma homenagem que nasceu da comunidade e é uma homenagem justa”, testemunhou.

A sessão que contou ainda com a uma evocação ao percurso do homenageado feita pelo diretor do “Folha do Domingo” e com a leitura e encenação pelo grupo de teatro local “Penedo Grande” de um trecho do texto da peça “Vitória das Amendoeiras” de sua autoria.