Foto © Samuel Mendonça
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O bispo do Algarve lembrou ontem, no primeiro dia da Quaresma que agora se iniciou, que neste tempo litúrgico “é mais importante acolher o perdão de Deus e partilhar esse perdão com os outros” do que limitar-se a tantas privações que não mudam o coração, nem os gestos ou atitudes.

A propósito da mensagem quaresmal do papa Francisco que convidou à leitura, intitulada «“Prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Mt 9, 13). As obras de misericórdia no caminho jubilar», D. Manuel Quintas advertiu que “não vale a pena” deter-se em abstinências que podem trazer “algum sossego” mas que não levam a pessoa para além disso.

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O prelado enfatizou a importância da “interioridade”, da “autenticidade”, e da “verdade” quer da esmola, quer da oração, quer do jejum. “Este caminho de conversão pessoal deve ser, acima de tudo, o que vivemos na interioridade do nosso coração, no silêncio e numa relação muito pessoal e muito íntima com Deus, deixando-nos perdoar por Ele, acolhendo o seu perdão e partilhando esse perdão com os outros como expressão sincera da nossa conversão”, sustentou.

O bispo diocesano lembrou que a Quaresma deve constituir um “caminho de preparação para a celebração da Páscoa”. “A Quaresma não existe em função de si mesma, mas como caminho que nos conduz a celebrar a plenitude da alegria que brota de Cristo ressuscitado. E este caminho deve ser assumido por nós como um tempo de conversão”, afirmou ontem à noite, na celebração de Quarta-feira de Cinzas, a que presidiu na catedral de Faro.

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D. Manuel Quintas exortou a uma “escuta mais atenta da palavra de Deus”. “É sempre a palavra de Deus que motiva e ilumina a nossa conversão. Escutar a palavra é deixar-se evangelizar por ela”, afirmou, considerando que “é favorável este tempo porque a palavra que a liturgia oferece diariamente contem em si um apelo mais veemente” que “desperta mais para o crescimento desta identificação com a pessoa de Cristo”.

O bispo do Algarve apelou também a “mais espaço à oração que seja verdadeiramente encontro com Cristo”. “É, sobretudo, na oração que crescemos nesta identificação com Ele”, complementou, desafiando à “partilha fraterna que deve ser o resultado de uma privação pessoal e expressão de uma verdadeira conversão”. “Tudo isto tem de ser provado pela caridade, a atenção aos outros. A caridade é sempre o termómetro que mede a verdade da nossa fé, a autenticidade da nossa oração e também a verdade da nossa participação na eucaristia”, lembrou.

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D. Manuel Quintas considerou que neste Ano Santo da Misericórdia “este tempo favorável torna-se ainda mais oportuno e mais favorável”. “O Ano da Misericórdia vem dar ainda um impulso maior a este caminho que a partir de hoje todos vamos percorrer iluminados, fortalecidos e conduzidos pela palavra de Deus à celebração da alegria pascal”, defendeu, sublinhando a importância das obras de misericórdia como inspiradoras da verdadeira conversão. “Que bom que seria que nós todos, ao longo desta Quaresma, assumíssemos como «companheiras de viagem» destes 40 dias as obras de misericórdia, tanto corporais como espirituais, e que nos empenhássemos em pô-las em prática”, desejou.

A celebração de ontem contou com a bênção e o rito penitencial de imposição das cinzas aos presentes. Tanto na Bíblia como na prática da Igreja, impor as cinzas sobre a cabeça é sinal de humildade e penitência. A sua imposição lembra aos fiéis a origem do homem – “recorda-te que és pó e ao pó hás de voltar” – e pretende simbolizar a renovação do compromisso de seguir Jesus, fazendo morrer o “homem velho”, ligado ao pecado, para fazer nascer o “homem novo”, transformado pela graça de Deus. Por isso, ao colocar um pequena porção de cinzas sobre a cabeça, o ministro ordenado pronuncia a frase “arrependei-vos e acreditai no Evangelho”.

A Quaresma é um período de 40 dias – excetuando os domingos –, marcado por apelos ao jejum, partilha e penitência, que serve de preparação para a Páscoa, a principal festa do calendário dos cristãos.