Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O bispo do Algarve disse ontem que “é preciso fazer silêncio interior para escutar o clamor dos pobres”.

D. Manuel Quintas presidiu no Santuário de Nossa Senhora da Piedade (Mãe Soberana), em Loulé, à eucaristia no dia em que a Igreja celebrou o II Dia Mundial dos Pobres, uma efeméride instituída pelo papa Francisco, após o Jubileu da Misericórdia, para se assinalar no penúltimo domingo do ano litúrgico.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Lembrando a mensagem do papa para aquele dia, intitulada “Este pobre clama e o Senhor o escuta”, o prelado disse ser necessário silenciar para que o “clamor dos pobres” “não seja abafado por tantos gritos” e “tantos barulhos interiores”. “Não podemos deixar que se abafe nos nossos ouvidos, mas sobretudo no nosso coração, o grito dos pobres. São os barulhos que há dentro de nós que abafam esses gritos e esses apelos”, sustentou, desafiando os cristãos a estarem atentos, sobretudo aos que “vivem perto”. “Estejamos atentos àqueles que conhecemos e com os quais nos cruzamos”, pediu.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Considerando que os pobres “são muitos em todo o mundo” e também em Portugal, D. Manuel Quintas evocou dados do INE referentes a 2017 para lembrar que “em Portugal há cerca de 2 milhões e 400 mil pobres”. “Destes, 6,9% vivem em condição de privação material severa. É um quarto da população”, contabilizou, acrescentando serem “tantos” e “em tantas situações”, seja “nos estabelecimentos prisionais, nos hospitais, nos lares e em tantos lugares”. “Tanta gente que tem como companheira apenas a solidão”, lamentou na eucaristia, que contou também com a renovação do compromisso das direções da Cáritas Diocesana do Algarve e do Conselho Central do Algarve da Sociedade de São Vicente de Paulo de combater a pobreza.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Advertindo que “pobre não é só aquele que tem fome de pão”, exortou os católicos a ajudarem a dar resposta às “primeiras necessidades”, mas também a “estes tipos de pobreza”. “O pouco que podemos fazer, diante do muito que é necessário, pode parecer-nos insignificante. Todavia, como nos recordava Santa Madre Teresa de Calcutá, uma gota de água, quase invisível, lançada ao mar não deixa o mar igual e, sobretudo, não deixa igual quem a lança”, realçou, acrescentando que “não há ninguém que pratique estes gestos que não fique diferente, que não sinta em si o apelo a ser melhor e, sobretudo, a concluir que a vida tem valor quando é vivida como serviço aos outros”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O bispo diocesano lembrou ainda que este “é um dever pessoal indelegável e inadiável” de cada cristão. “Não podemos delegar noutros aquilo que compete a cada um de nós. Se há estas instituições – a Cáritas, os Vicentinos, as Missionárias da Caridade – elas servem para canalizar esta ajuda diante de situações muito concretas, mas não podemos delegar nelas aquilo que nos compete a nós”, alertou, lembrando que essa obrigação “radica no batismo”. “Fazer o bem e praticar a caridade é o caminho mais certo e mais seguro de prepararmos o nosso encontro definitivo com o Senhor”, acrescentou ainda, realçando a importância das “obras de misericórdia” para aliviar as “muitas formas de pobreza”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Evidenciando que “a caridade é a fé em movimento”, D. Manuel Quintas advertiu ser através dela que se conhece a fé. “É pelas obras que mostramos a autenticidade da fé. Sabemos como as obras dão força à palavra, ao testemunho, tornam a fé autêntica e verdadeira”, observou, exortando os católicos à caridade. “Decidamo-nos a amar e a ir ao encontro dos outros, não com palavras mas com obras e em verdade”, pediu, apelando a “fazer do serviço aos outros o ideal de cada dia”.

Na celebração, em que esteve também patente uma exposição fotográfica alusiva ao tema da pobreza, o bispo do Algarve dirigiu ainda “uma palavra de gratidão e de estímulo àqueles que estão à frente da Cáritas e das Conferências Vicentinas”, duas das grandes organizações católicas no combate à pobreza.