
O bispo do Algarve lamenta que os cristãos não testemunhem a ação social que realizam “com a mesma força e vigor de outras dimensões” da vida da Igreja.
“Por que é que a Igreja Católica assume a ação social como um imperativo inadiável e irrecusável?”, começou por interpelar D. Manuel Quintas, acrescentando que “alguns estranham isto”. De acordo com o prelado, “o «defeito» não é de quem estranha”. “É que nós não testemunhamos essa dimensão com a mesma força e vigor de outras dimensões”, considera o bispo diocesano.
D. Manuel Quintas falava, no passado domingo, na cerimónia de bênção e inauguração da Cantina Social da Cáritas Paroquial da matriz de Portimão.
Citando Bento XVI lembrou que “a ação social pertence à natureza da Igreja e exprime, irrenunciavelmente, a sua essência e identidade” e disse que “o sinal do amor de Deus, manifestado nos gestos e atitudes com aqueles que precisam desses gestos e atitudes” é considerado como o oitavo sacramento.
“Não podemos apenas limitar-nos àquilo que é a proclamação do evangelho, à dimensão celebrativa”, afirmou, lembrando que a ação da Igreja passa também pelo “serviço da caridade”, uma “dimensão social” que é “estruturante”.
Perante a questão de se aferir se este é dever do Estado, o bispo do Algarve considera que “não cabe ao Estado substituir-se àquilo que os cidadãos podem e devem fazer”. “Cabe ao Estado, sim, harmonizar, regular, legislar, de maneira que este serviço se preste de modo concreto e efetivo”, refere, acrescentando que “o povo deve ser e permanecer o sujeito, o fundamento e o fim da vida social”. “Uma vez que a soberania radica na sociedade civil, é a construção do bem comum, aos mais diversos níveis, que justifica a autoridade e intervenção do Estado”, sustenta o prelado, acrescentando que esse objetivo deve ser assegurado “com o envolvimento de todos, do povo, daqueles que dão e justificam a autoridade do Estado”.
D. Manuel Quintas lembra que “o bem comum e a edificação de uma sociedade solidária mais justa e fraterna exige que se conceda ao princípio da subsidiariedade pleno alcance e sentido”, uma norma que lembra estar “bem patente nos documentos fundamentais” da própria Constituição Portuguesa. “Os tratados da União Europeia referem este princípio: aquilo que um pode fazer devemos deixar que ele o faça. Que não venha outro substituir-se àquilo que, neste caso, todos somos chamados a fazer, como é o nosso contributo para o bem comum”, complementa, recordando que, “neste contexto deverá valorizar-se uma intervenção mais próxima dos cidadãos com lugares de decisão descentralizados”.
O bispo do Algarve sublinha que “os cristãos estão conscientes de que o serviço fraterno constitui, ao lado do anúncio do evangelho e da celebração da fé, uma dimensão fundamental do seguimento e da identificação com Cristo”. “A organização da Pastoral Sociocaritativa, como expressão da fé, situa-se no cerne da procura do seguimento fiel do evangelho”, destaca, aludindo à importância do tripé que sustenta a ação eclesial: pastoral profética, pastoral litúrgica e pastoral sóciocaritativa. “Para que as nossas comunidades e, pessoalmente e individualmente, como cristãos cresçamos e testemunhemos uma fé adulta, precisamos deste tripé: a dimensão da palavra, do culto e da caridade. Se falta uma destas quer dizer que somos cristãos ou comunidades cristãs incompletos ou não suficientemente amadurecidos. Daí que não podemos renunciar a esta dimensão social”, conclui.