
O bispo do Algarve lembrou ontem que a política “é um meio de servir a sociedade” e de “participar e colaborar no bem comum”.

A propósito da mensagem do papa para o 52º Dia Mundial da Paz que ontem se celebrou, intitulada ‘A boa política está ao serviço da paz’, D. Manuel Quintas lamentou alguma mentalidade de desconfiança em relação a quem exerce cargos políticos. “Às vezes, há um pouco a mentalidade que basta que alguém seja político para já ser classificado como uma pessoa da qual temos de desconfiar ou duvidar. Não pode ser assim!”, afirmou, evidenciando a importância de “afirmar a dignidade da política”, o que segundo Francisco a torna numa “forma eminente de caridade”.

Na eucaristia a que presidiu à tarde, como acontece anualmente, no Santuário de Nossa Senhora da Piedade (popularmente conhecida como Mãe Soberana), em Loulé – o santuário mariano de maior expressão no Algarve – por se celebrar também no primeiro dia do ano a solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, o prelado lembrou que as “atitudes”, “gestos” e “opções” daqueles “que se dedicam à causa pública e fazem disso um ideal de vida, de serviço aos outros” “são decisivas para construir uma paz duradoura” para o “bem-estar de todos”.

Mas o bispo diocesano acrescentou que “quando se fala em política não é apenas para aqueles que fazem dessa opção a sua ação para o bem comum”. “Todos nós somos corresponsáveis pelo bem-estar de todos, pela polis, pela cidade”, sustentou, pedindo, por conseguinte, que cada um “se sinta corresponsável em participar ativamente quando é chamado, sobretudo, nas eleições, através do voto”. “Como é importante que nós não deleguemos noutros aquilo que nos compete a nós e exerçamos os nossos direitos e deveres a este nível”, afirmou, lembrando que este ano haverá eleições para o Parlamento Europeu e para a Assembleia da República.


“O papa diz-nos que é fundamental combater o crescente absentismo, o desinteresse e o alheamento com a participação responsável nas decisões que determinam o rumo do próprio país, sobretudo, através do voto”, prosseguiu D. Manuel Quintas, acrescentando que “cresce, cada vez mais, o número daqueles que se abstêm de participar, por exemplo, nas eleições”. “Parece que os jovens caminham por outro caminho, não se sentem atraídos por isso. Porque é que será? O que é que será preciso fazer para não crescer este absentismo e caminhar à margem daquilo que são as grandes opções que definem o presente e o futuro de uma sociedade e que passa necessariamente por opções que estejam ao serviço da paz?”, interrogou.


Lembrando que “cada um pode contribuir para a construção da casa comum”, o bispo do Algarve disse ser preciso “agir de modo a estabelecer entre as gerações presentes e futuras laços de confiança e gratidão”, “reconhecer as capacidades de cada pessoa e encorajar a participação política das jovens gerações”.
Mas D. Manuel Quintas acrescentou ainda que a participação na causa pública implica também “denunciar atitudes sem ética da parte de quem se esperaria um comportamento exemplar”, “pôr fim à marginalização e mesmo à exploração de quem vive fora do seu país, longe da sua família, cultura e terra”, lembrando os refugiados. “Sabemos como é um drama nos dias de hoje para eles e como tanta gente tem medo, quer construir muros, quer impedir que toda esta gente encontre situações melhores para a sua vida e para a vida dos seus, com todos os problemas que isso traz. Não devemos desmobilizar-nos, nem condenar ao ostracismo todos aqueles que procuram um futuro melhor”, pediu.


O bispo diocesano apelou ainda a que se rejeite “toda a violência verbal com os adversários”, proferida em “discursos baseados na hostilidade, no ódio”, bem como “uma cultura de guerras e o consequente comércio de armas perante a cumplicidade daqueles que permanecem indiferentes ao destino que lhe é dado”, problemáticas que o papa também aborda e que D. Manuel Quintas reforçou como “muito importantes nesta construção da paz”.
“A paz é um desafio que requer ser abraçado dia após dia, supõe uma conversão do coração e do espírito nas suas vertentes pessoal e comunitária que são indissociáveis”, concluiu na eucaristia que disse servir também para pedir a “bênção” e a “proteção materna de Maria”, “para cada um dos dias deste novo ano” e na qual desafiou cada cristão a “acolher Cristo como a grande bênção de Deus para este ano”. “Que esta presença de Cristo na nossa vida produza frutos, sobretudo, de paz”, desejou.