Festa_grande_mae_soberana_2014 (59)
© Samuel Mendonça

O bispo do Algarve pediu ontem à multidão que compareceu em Loulé para a Festa Grande de Nossa Senhora da Piedade, popularmente evocada como Mãe Soberana, que retenha de Maria a “aprendizagem do acolhimento”.

D. Manuel Quintas, que presidiu à eucaristia que precedeu a procissão pelas ruas centrais da cidade, culminando com a habitual subida em apoteose ao íngreme cerro onde se implanta o Santuário com a pequena ermida e a nova igreja dedicadas à Mãe Soberana, deteve-se no lema deste ano da festa mariana: “Aprender com Maria a acolher com alegria”.

“Faz tanta falta, na nossa vida, crescermos nesta atitude de acolhimento mútuo e fraterno. Maria ensina-nos a acolher Deus como Pai e o seu filho Jesus como nosso irmão e quer também a que acolhamos a ela como nossa mãe”, destacou o prelado, lembrando que quem cumprir isto “nunca se sentirá sozinho”. “Acolher Jesus como nosso irmão quer dizer acolhermo-nos, uns aos outros, como irmãos”, complementou.

Citando o Papa Francisco, D. Manuel Quintas lembrou que “Maria, com alguns paninhos e uma montanha de ternura, soube transformar um estábulo de animais na casa de Jesus”. “Talvez na nossa vida preocupamo-nos mais com a montanha de paninhos que só atrapalham e, se calhar, com alguma, pouca, ternura. E isso não nos faz felizes, nem nos ajuda a acolhermo-nos uns aos outros, a acolhermos Deus como Pai, Jesus como irmão e Maria como mãe”, lamentou.

“A imagem de Nossa Senhora da Piedade com o filho descido da cruz no seu regaço diz-nos que é sobretudo em momentos em que a nossa cruz se torna mais pesada que ela nos quer no seu regaço. É ao seu colo que ela nos tem. É aí o lugar privilegiado de todos os filhos em relação às suas mães”, afirmou D. Manuel Quintas que já se tinha regozijado pela “feliz coincidência” do primeiro domingo de maio ser este ano o Dia da Mãe.

O bispo do Algarve, que benzeu 30 miniaturas da Mãe Soberana para os diversos lugares que constituem as paróquias de Loulé, lembrou as crianças, famílias, idosos, doentes, pobres, migrantes e rejeitados, as escolas e o trabalho na indústria, comércio, agricultura e na pesca, os desempregados, instituições e associações, turistas, visitantes e peregrinos e consagrou Loulé e a Diocese do Algarve, com todas as suas paróquias, a Nossa Senhora.

Após a eucaristia, junto ao monumento a Duarte Pacheco, D. Manuel Quintas, que presidiu à procissão participada pelos muitos sacerdotes que também concelebraram momentos antes, entre eles o padre Agostinho Leal, Carmelita Descalço, este ano o pregador do tríduo de preparação para a Festa Grande.

Impondo-se como a maior manifestação de fé a sul do Tejo, que é simultaneamente a mais significativa expressão de devoção mariana algarvia, a Festa Grande a Nossa Senhora da Piedade voltou a atrair a Loulé uma multidão imensa de pessoas que congestionou por completo a circulação na cidade, oriundas não só de todos os pontos do Algarve, como também de diversas regiões do país.

Ao esforço dos homens oito homens, vestidos de calças e opas brancas, que transportam a imagem de Virgem Maria com Jesus no braços, aliou-se a força espiritual dos muitos milhares de fiéis que, em vivas inflamadas a Nossa Senhora da Piedade, acenando lenços ou em passo vivo e na cadência musicada dos homens da banda, «empurraram», calçada acima no calor da fé, o pesado andor da padroeira.

À chegada ao Santuário e junto à ermida, coube ao padre Agostinho Leal fazer a pregação de encerramento. O sacerdote agradeceu, em nome da multidão, pelo exemplo e proteção de Nossa Senhora, pedindo-lhe sempre o seu amparo e ajuda.

Seguiu-se o regresso, em marcha, de todos com a banda até ao centro da cidade e as festividades de Nossa Senhora da Piedade, que constituem uma tradição com provável origem em 1553, data oficial da edificação da capela que lhe é dedicada, terminaram à noite com um espetáculo de fogo-de-artifício junto àquela capela.