
“Se não acolhemos esta gente que vem, vamos morrer nós asfixiados com todo o envelhecimento que se está a criar neste continente europeu”. Foi assim que o bispo do Algarve se referiu ao caso da criança descoberta na quinta-feira dentro de uma mala, já com problemas respiratórios, ao tentar passar de Marrocos para Ceuta.
A criança de oito anos, oriunda da Costa do Marfim, foi detetada na zona de controlo fronteiriço em Tarajal, a única fronteira que separa Marrocos de Ceuta, quando tentava ir ter com o pai nas Canárias, em Espanha, onde este tem autorização de residência, embora sem autorização para que a família vá ter com ele.
“Quantas coisas esta gente inventa, com criatividade, para concretizar um direito que têm… Então o filho não tem o direito de se encontrar com o pai? E o pai não tem o direito de ter o filho junto de si?”, prosseguiu D. Manuel Quintas, acrescentando: “são imagens que nos interpelam e nos mobilizam a criarmos, juntos, um continente que seja acolhedor”.

“A Europa de todos nós exige de cada um esforço e participação para que seja espaço de acolhimento. E, neste espaço de acolhimento, o nosso pensamento vai para o Mediterrâneo”, afirmou o prelado na sexta-feira à noite em Faro, na iniciativa europeia “Juntos pela Europa”, este ano assinalada sobre o tema “O papel dos cristãos na Europa de hoje”, e que, no Algarve, foi promovida por vários movimentos cristãos, na sede da delegação regional de Faro do Instituto Português do Desporto e Juventude.
“O papa Francisco tem-nos alertado e até nos diz que tudo o que vemos nos envergonha, e com muita razão, por tudo o que se passa e se tem passado recentemente”, acrescentou o bispo diocesano, lamentando que ainda não haja “caminhos claros de solução para que a Europa seja espaço de acolhimento”.
O bispo do Algarve já se tinha referido ao “drama” dos imigrantes que têm falecido no Mediterrâneo no passado dia 27 de abril, quando se associou à iniciativa nacional “Somos todos pessoas”.