(leia-se Erik Helgeson, vice presidente e porta voz do sindicato dos estivadores suecos)

Quando penso num estivador imagino alguém de compleição física robusta, forte, com determinação e resistência para trabalhar duramente. Não sei se ainda é assim, com a massificação generalizada que se vive em todo o lado e em todos os setores e com uma certa descaracterização do que “era de uma certa forma” e deixa agora de o ser.

Sei que tenho um tio que foi estivador no porto de Hamburgo, na Alemanha, nos anos idos de 70, 80 do século XX, homem simples e forte, português emigrado e muito trabalhador e lembro-me dos episódios que contava acerca do trabalho árduo e fisicamente muito pesado que se fazia por lá. Calculo que os grupos de trabalho desses homens sejam também grupos fortes e unidos, com boas estruturas que os defendam e apoiem, cientes também do peso que têm (ou podem ter) estas classes (e outras), no bem comum de uma sociedade. Afinal, a posição central dos portos no comércio global a e no poder de paralisação que esses trabalhadores possuem, pode ser imenso.

Calculo também que quando estivadores entrem em greve ou bloqueiem cargas, isso possa paralisar cadeias de abastecimento inteiras, atrasar entregas, aumentar custos e causar grandes prejuízos. Penso que assim será.

Então não posso deixar de partilhar que, após ter descoberto ocasionalmente, na Net imensa, leia-se, nas redes, uma notícia que dava conta de que o sindicato dos estivadores suecos (Svenska Hamnarbetarförbunded) organizou um bloqueio de seis dias a cargas militares com destino a Israel, achei tremendo. Percebi também que este sindicato é conhecido por liderar ações e campanhas de solidariedade internacional, incluindo bloqueios a cargas militares destinadas a Israel.

Voltou-me à ideia a imagem de homens simples, rudes, talvez barbudos, vergados pelo trabalho, mas de bom coração, atentos a causas e a ideias e com um sentido profundo de justiça e de bem comum. Talvez porque o seu próprio trabalho seja árduo e muito difícil. E aquela frase que me aflora a alma de cada vez que vejo e oiço imagens da faixa de Gaza, daqueles miúdos e miúdas, mães e pais completamente vergados a um desespero e a uma fome sem fim, aquela frase “mas o que posso eu fazer?”, teve alguma resposta nestes homens, que imagino unidos por uma causa comum e tão consensual para todos. É que isto extravasa toda a cor política e explicação geo-estratégica-de fação A, B, ou C. É uma questão de justiça e é um grito coletivo que todos temos de dar. Eu, disseminando, muito humildemente esta iniciativa (que outras haverá…) e eles, intentando ações como estas. Por isso sim, “boa Erik, acho que a minha ideia sobre os estivadores e aquilo que via no meu tio, pode mesmo estar certo, mesmo que já não sejam barbudos, rudes, ou fortes. Unidos e determinados, serão de certeza.”

P.s.
Para quem se possa interessar, sugiro a consulta da página, BLOCK THE BOAT | BDS Movement, referente a um movimento que impede navios que transportam armas para Israel de atracar em portos, com o objetivo de chamar a atenção para a violação dos direitos humanos.