
Nos últimos dias, o mundo cristão católico tem sido animado pelas notícias do início do Sínodo da Amazónia, cujo tema é: “Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. O que na verdade acontece, estou certo, é que muitos, católicos e não católicos, não saberão o que é este evento.
Ele foi instituído pelo Papa São Paulo VI em 15 de setembro de 1965 com o Motu Proprio Apostolica Sollicitudo e a sua instituição ocorreu no contexto do Concílio Vaticano II que, com a Constituição dogmática Lumen Gentium (21 de novembro de 1964), ganhou corpo. Na verdade, um Sínodo é uma reunião de «bispos escolhidos das diversas regiões do mundo», que, «representando todo o episcopado católico», são «um sinal de que todos os Bispos participam na hierárquica comunhão da preocupação da Igreja universal1». Com o Papa Francisco e a Constituição Apostólica Episcopalis Communio (15 de setembro de 2018), deu-se uma profunda renovação na organização deste organismo, passando o mesmo a ser encarado como um importante meio de a Igreja se envolver, expressar e pronunciar sobre temas importantes. Essa nova forma de organização implica a existência de uma fase preparatória (nela se consultam os católicos sobre o tema ou temas propostos pelo Santo Padre para serem analisados), de uma fase celebrativa (na qual se reúnem efectivamente os bispos e demais participantes, para analisarem e debaterem os assuntos e proporem formas de acção) e, por fim, de uma fase de implementação do que for definido, na qual as conclusões do Sínodo aprovadas pelo Romano Pontífice devem ser aceites pela Igreja. Aliás, Francisco realizou no seu Pontificado outro sínodo, o dos Jovens.
Na verdade, o que se busca e que foi a preocupação central do Papa, é encontrar um espaço de promoção do diálogo e da comunhão, um espaço em que a pluralidade de visões e de sensibilidades que a Igreja encerra possam ser conhecidas e que se encontre um caminho comum – caminharmos juntos –, marcado, naturalmente, pelo caminho maior, que é Jesus Cristo ele mesmo.
A Amazónia é um vasto território, como todos sabemos, que enfrenta graves problemas: falta de respeito pelos recursos naturais (que não é somente imposta pelos interesses de não naturais de lá, mas também pelos próprios habitantes e indígenas), falta de respeito pela biodiversidade, falta de respeito pelas pessoas e estes três factores colocam em risco, não somente esse território, mas todo o planeta, a «nossa casa comum» a que se refere o Papa Francisco na Encíclica Laudato Si. O pulmão do planeta está doente e precisamos, enquanto seres que respeitam a criação – que é obra de Deus – e são seus guardiões, de cuidar melhor dela, de reflectir sobre formas de apoiar quem lá vive e quem toma decisões ou age em prol da manutenção deste espaço como um lugar de vida.
Fala-se, pois, da implementação de uma “ecologia integral”, ou seja, uma preocupação que associe e considere interdependentes os factores sociais e económicos dos factores naturais. Diz-se, precisamente, na Laudato Si (LS 156 e 225; EG 71): «A ecologia integral é inseparável da noção de bem comum, princípio este que desempenha um papel central e unificador na ética social (…) Uma ecologia integral exige que se dedique algum tempo para recuperar a harmonia serena com a criação, refletir sobre o nosso estilo de vida e os nossos ideais, contemplar o Criador, que vive entre nós e naquilo que nos rodeia e cuja presença «não precisa de ser criada, mas descoberta, desvendada». Ou seja, respeitar o mundo e os irmãos como verdadeiros dons de Deus, que é preciso salvaguardar.
É esse o nosso desafio. E digo nosso com muita convicção, pois apesar do Sínodo dizer respeito a um lugar específico, às suas necessidades, diz respeito, também, a toda a Humanidade e a todos os católicos em particular. O que se procurará, mais do que debater temas que soam muito alto na imprensa (como a questão da ordenação de homens casados ou do diaconato feminino), é encontrar a tal estrada que deveremos percorrer doravante. E essa deverá ser uma estrada que permita o cuidado da natureza, a manutenção da Fé e da espiritualidade católicas num território cada vez mais desertificado, onde o clero é escassíssimo e a consciência (da qual falou Francisco na eucaristia de abertura do Sínodo) de que temos de acabar com os “novos colonialismos”, gerador de fogos morais tão avassaladores como o imenso fogo físico que consome a Amazónia, nos deve mover a todos à oração e à reflexão.
Parafraseando o apelo do Santo Padre, pelos irmãos da Amazónia e por todos nós, pelo Cristo que se sacrificou na cruz, caminhemos junto!
Sugestões de leitura, para aprofundamento deste tema:
Site do Sinodo: http://www.sinodoamazonico.va/content/sinodoamazonico/pt.html
Artigo de Michael Czerny e David Martínez de Aguirre Guinea O.P, na revista LA CIVILTÀ CATTOLICA: https://www.laciviltacattolica.it/articolo/por-que-a-amazonia-merece-um-sinodo/
1Decreto conciliar Christus Dominus (28 de outubro de 1965), nº.5.