
Realizou-se ontem à noite em Faro a primeira catequese preparatória para o IX Encontro Mundial de Famílias que vai decorrer de 22 a 26 de agosto de 2018 em Dublin (Irlanda) com o papa Francisco.
A iniciativa, promovida pelas paróquias constituintes da vigararia de Faro em colaboração com o Sector da Pastoral Familiar da Diocese do Algarve, teve lugar no salão da paróquia de São Luís com a participação de 35 pessoas das paróquias do Montenegro, de São Pedro e da Sé de Faro, para além da paróquia anfitriã, incluindo os três casais do Algarve que irão ao encontro de Dublin acompanhados pelo padre Rui Barros Guerreiro: Mário Rui e Maria Eugénia de Jesus, um dos casais coordenadores do Sector Diocesano da Pastoral Familiar (SDPF), Marco e Cláudia Vieira, da paróquia de Ferreiras e Rogério e Graciete Egídio, da paróquia de São Luís de Faro.
Esta primeira catequese foi precedida por um encontro introdutório que ocorreu no mesmo local no passado dia 3 de maio e que serviu para a apresentação do conjunto das sete catequeses que serão realizadas no contexto do encontro com o papa. “Foi uma forma de motivar as pessoas para a leitura das catequeses todas”, explicou ao Folha do Domingo Mário Rui e Maria Eugénia de Jesus que orientaram aquele encontro.

A catequese de ontem foi orientada pelo casal Carlos e Paula Ferrinho, também coordenadores do SDPF – após o enquadramento do Encontro Mundial de Famílias feito pelo assistente do SDPF, o cónego Carlos César Chantre -, partindo do acontecimento narrado na Bíblia em que Jesus, aos 12 anos, é encontrado pelos pais, que não sabiam dele, a falar aos doutores da lei no templo. “A família de Nazaré viveu neste episódio uma crise”, constatou Carlos Ferrinho, lembrando que “tragédias e crises familiares surgem na Bíblia em vários livros”. “A palavra de Deus não apresenta uma imagem idealista e abstrata da família, mas situações concretas de singularidade e particularidade dos seus problemas com dificuldades e com desafios.A imagem da família ideal e imaculada existe na Sagrada Escritura também perturbada com estas mesmas vicissitudes das famílias dos dias de hoje”, observou, concluindo que “não existe a família ideal, sem crise”.
O orador explicou assim que o “desafio” colocado por aquelas catequeses é o de “como reagir perante qualquer crise”. “A sagrada família oferece a todas as famílias as coordenadas fundamentais para que se encontre um caminho, uma escola de vida para a superação da crise da família quando ela surge”, complementou.
Carlos Ferrinho abordou também a importância dos filhos na realidade familiar para constatar que “podem ser, por vezes, também um foco de crise, mas não devem preencher a totalidade da relação dos pais”. “A grande questão não é onde está fisicamente o filho, com quem está naquele momento, mas onde se encontra em sentido existencial, onde está posicionado do ponto de vista das suas convicções, dos seus objetivos, dos seus desejos, do seu projeto de vida”, destacou.

“A grande esquizofrenia dos dias de hoje relativamente à educação e aos filhos é que encontramos um grande número de pais que se empenham para que possam ter muitas atividades educativas, várias atividades desportivas, artísticas”, lamentou.
No âmbito da educação dos filhos, Paula Ferrinho exortou a que se procure “promover liberdades responsáveis” e desafiou a “tentar ensinar aos miúdos a optar com sensatez e inteligência”, considerando que educar os filhos tendo“esta liberdade que eles têm que gerir é se calhar o maior desafio de um pai e de uma mãe”. “Mas sendo o maior desafio, é também o maior foco. Se fugirmos disto não estamos a educar bem”, advertiu, acrescentando que os papeis da mãe, do pai e dos dois em conjunto “são absolutamente estruturantes para a personalidade e para o crescimento dos filhos”. “É absolutamente essencial na formação da personalidade ter a referência materna e ter a referência paterna”, afirmou, acrescentando que “o pai e a mãe são os cooperadores do amor de Deus” e “os seus intérpretes”. “Mostram ao filho o amor de Deus através dos rostos da mãe e do pai e do rosto daquele amor dos dois. Se assim não for o filho é uma posse caprichosa”, complementou.

Paula Ferrinho disse que “a crise fundamental vivida hoje por muitas famílias situa-se neste analfabetismo afetivo que parte da relação fundamental entre os esposos em todas as áreas, gerando a cultura do provisório”. Carlos Ferrinho lamentou a propósito a “visão descartável e volátil do amor”.“Esta visão passa por esta cultura do provisório, ou seja, tudo acaba por ser muito rápido, muito consumível, muito imediato”, sustentou.
“Claro que estas coisas todas desencorajam, muitas vezes, os mais jovens de formar família porque são assustados pela imagem do fracasso”, lamentou Paula Ferrinho, retomando o “desafio” daquela catequese de olhar para a sagrada família para perceber “como os acontecimentos críticos da vida, as situações de crise” “podem ser uma fonte inesgotável de graça e de santificação”. “É uma ilusão pensar que a família não vai ter crises. O desafio é optar e aprender a superá-las”, concluiu.
A catequese prosseguiu com os participantes a refletirem, em três grupos, nas seguintes questões, cujas conclusões foram depois apresentadas em plenário: “De que modo uma crise familiar pode tornar-se fonte inesgotável de graça?”; “Como vivemos o ser pai o ser mãe com o cônjuge que Deus colocou ao nosso lado? Como podemos levar os nossos filhos a experimentar a inter-relação entre a paternidade e maternidade?”; “Certamente na nossa vida familiar e conjugal há dificuldades, problemas, as chamadas crises. Como as enfrentamos? Como as deveremos enfrentar à luz da catequese que meditámos?”.
Estas sete catequeses preparatórias do encontro mundial das famílias,que foram enviadas pela Santa Sé e traduzidas pelo bispo do Algarve, terão continuidade no mesmo local pelas 21h30 já no dia 24 deste mês e no dia 7 de junho. A partir de setembro e em datas a anunciar, serão realizadas as restantes quatro que servirão assim para partilha da vivência e das conclusões do evento.
O Encontro Mundial de Famílias deste ano será o primeiro depois das assembleias do Sínodo dos Bispos dedicadas às questões do matrimónio e da vida familiar.