O padre Santiago Guijarro terminou ontem a sua reflexão com os cerca de 90 participantes das jornadas do clero das dioceses do sul do país garantindo-lhes ser importante regressar ao passado fundacional da Igreja para idealizar “formas novas” de evangelização.

“Voltar a este passado fundacional é muito estimulante, não para fazer aquilo que eles faziam, mais para, a partir das coisas que eles faziam naquela situação, também nós idealizarmos formas novas, muito mais plurais, de evangelização, adaptadas à situação que estamos a viver”, defendeu aquele membro da Irmandade dos Sacerdotes Operários Diocesanos e professor catedrático da Faculdade de Teologia da Universidade Pontifícia de Salamanca.

“Temos de abrir um pouco a mente e pensar noutros espaços e noutras formas de evangelização para que se dê o primeiro anúncio”, sustentou, na conferência que proferiu sobre o tema ‘Sagrada Escritura: fonte da primeira Evangelização’ na atualização dos bispos, padres e diáconos das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal que se realizou online e que hoje terminou.

O sacerdote acrescentou que “a missão evangelizadora da Igreja pode e deve ter diversas expressões, pode e deve refletir diversas sensibilidades”. “Quando queremos reduzi-la aos mesmos estilos, empobrecemo-la”, alertou, exortando também à “configuração de um estilo de vida cristão”, que disse ser “hoje uma tarefa crucial”. “É uma tarefa que requer reflexão, oração, diálogo e, sobretudo, muita paciência”, advertiu, acrescentando: “fazemo-nos cristãos primeiro mentalmente, depois emotivamente, mas demoramos muito em fazer-nos verdadeiros cristãos na prática porque a prática implica todo o ser incarnado. Também o corpo”.

O teólogo espanhol lembrou que a “primeira geração, situada cronologicamente entre a morte de Jesus e o desaparecimento de muitos que o conheceram – entre o ano 30 e o ano 70 – foi animada por uma dinâmica expansiva que levou a mensagem do Evangelho aos lugares mais recônditos”. “A segunda geração teve a difícil tarefa de consolidar esta prodigiosa expansão, fortalecendo os pequenos grupos que se foram criando e fazendo deles centros de difusão da mensagem e do modo de vida cristão”, sustentou, considerando as duas gerações “fundamentais para entender o que significou a primeira evangelização”.

“O impulso da evangelização nasce do encontro pessoal com o Ressuscitado. Isto significa que não há evangelização se não se der antes este encontro”, alertou, sublinhando que “a primeira evangelização foi uma tarefa partilhada por todos os crentes” e não protagonizada apenas pelos apóstolos. “A tarefa de anunciar o Evangelho não está, portanto, reservada ao ministério apostólico, mas pertence a toda a Igreja”, concluiu.

“Por outro lado, é importante não esquecer que, paralelamente a estas missões mais organizadas, encontramos durante a primeira geração uma atividade evangelizadora mais espontânea realizada por missionários anónimos, a maioria deles judeus da diáspora que haviam conhecido Evangelho em Jerusalém por ocasião de uma peregrinação à cidade ou talvez de uma estadia mais prolongada. Em muitos casos a Boa Nova difundiu-se através destes missionários anónimos”, desenvolveu, assegurando que “a primeira evangelização de Roma não foi levada a cabo por nenhum dos apóstolos”. “A contribuição destes missionários anónimos na primeira evangelização foi decisiva, pois graças à sua ligação a diversas redes sociais o Evangelho chegou a contextos e ambientes muito diversos”, realçou.

Por outro lado, o orador, salientando a “importância da dimensão vivencial da pregação”, referiu que estudos realizados sobre novos grupos religiosos mostram ser “determinante” no processo de conversão, não a mensagem, mas “o exemplo de vida, a proximidade, o acompanhamento”. “Prega-se primeiro com a vida. Comunidades que acolhem, que acompanham, são o primeiro momento de encontro com o Evangelho. Quando se está a viver o processo de conversão, o decisivo é a relação pessoal”, afirmou, abordando também “os espaços e os conteúdos do primeiro anúncio”. “A experiência dos primeiros cristãos ensina-nos que é no contexto da vida quotidiana que podemos dar o nosso testemunho”, disse.

O padre Santiago Guijarro acrescentou ainda que “as comunidades foram um elemento decisivo para acompanhar este processo que se iniciava com o primeiro anúncio e que se fortalecia no processo de conversão, lento e paciente” e referiu “a importância de ter comunidades que verdadeiramente acolhem e acompanham os processos de fé, os processos de conversão” porque “oferecem uma pluralidade de experiências com as quais cada um se pode comparar”. “A experiência da primeira evangelização põe em evidencia que o testemunho e o anúncio não são suficientes para que a conversão inicial se consolide. A fé necessita ser partilhada com outros. A existência de comunidades vivas é um requisito fundamental para a perseverança e o enraizamento da fé”, evidenciou, acrescentando: “fazemo-nos cristãos primeiro mentalmente, depois na emotivamente, mas demoramos muito em fazer-nos verdadeiros cristãos na prática porque a prática implica todo o ser incarnado, também o corpo”.

O sacerdote concretizou a “função muito importante de acompanhamento” dos grupos porque “eram sobretudo lugares de acolhimento onde a pessoa se sentia recebida”.