O cónego Carlos de Aquino alertou que os jubileus, como o atual que a Igreja está a celebrar, têm “uma forte dimensão social” e não devem ser compreendidos exclusivamente como “momentos de graça espiritual”.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O sacerdote apresentou uma reflexão sobre o tema “O Jubileu da Esperança e a dimensão social dos Jubileus” no Encontro dos Centros Sociais Paroquiais e das Santas Casas da Misericórdia da diocese algarvia que teve lugar na passada quinta-feira, 22 de maio, em Loulé.

Na iniciativa, que contou com cerca de 65 participantes, o orador começou por realçar que “os jubileus não são apenas eventos litúrgicos ou momentos de renovação espiritual individual, mas são também convocações em ordem à justiça, à solidariedade e à transformação social”.

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“Os jubileus na Igreja, quando compreendidos em sua plenitude, representam sempre este tempo de renovação integral”, frisou, acrescentando que a dimensão social do Jubileu – que disse ser “um desafio espiritual” e “uma exigência evangélica” – revela que “a fé cristã não se limita ao âmbito do privado, da sacristia, mas possui uma clara incidência pública, social”. “Somos convidados a um testemunho no mundo e na transformação das realidades do mundo”, resumiu, apelando à “transformação de estruturas injustas” e à “reforma de sistemas que mantém os pobres na margem”.

Começando por se referir ao fundamento dos anos santos na tradição bíblica e na missão evangelizadora da Igreja, o sacerdote destacou “a justiça e a libertação”, bem como “a prática do perdão das dívidas”, sempre associados a “um tempo de restauração e de exercício de misericórdia”.

“O Jubileu impunha uma reestruturação social, que visava evitar a concentração de riquezas e a perpetuação da pobreza. Ora, isto é que seria interessante, ao viver com verdade o Jubileu, acontecer: não se perpetuar a pobreza e não se concentrar a riqueza só em alguns, às vezes, injustamente partilhada”, afirmou, lembrando que o “o Jubileu devolvia às próprias famílias a sua independência e a sua dignidade”. “Falamos tanto de dignidade, até dos valores de Abril, mas convenhamos que está pelas ruas da amargura o exercício desta dignidade humana, até da sua defesa da vida”, lamentou.

Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O orador destacou assim o Ano Santo como “instrumento de reorganização social, reintegração dos excluídos, promovendo uma sociedade mais justa e mais fraterna”. “Daqui a nada estamos na conclusão do Jubileu. Estamos sociedades mais justas, fraternas, reintegrámos os excluídos, reorganizámo-nos socialmente, comunitariamente?”, questionou, reforçando que “o Jubileu deve ser vivido como um tempo de conversão social” e pessoal.

“O Jubileu é um tempo privilegiado para refletirmos sempre sobre o agir e os grandes desafios que se impõe à sociedade, a pobreza, as desigualdades estruturais, a exploração económica, os conflitos armados, a violência, a degradação ambiental”, prosseguiu, acrescentando que “os cristãos não podem silenciar a sua voz sobre estas questões porque elas interpelam a todos”. “Num mundo marcado por desigualdades, pela concentração do bem, dos bens, pela indiferença à dor do outro, do próximo, este Ano Jubilar confronta-nos com exigências concretas, como sejam, compartilhar, restituir, reconciliar, perdoar”.

O sacerdote advertiu assim que “a vivência jubilar exige um compromisso com os pobres e excluídos, não apenas uma atitude assistencialista, mas de transformação das vidas”. “Sem verdade, a caridade degenera em sentimentalismo e depois o seu fruto é o assistencialismo”, alertou, lembrando que este não promove a pessoa na sua dignidade.

O cónego Carlos de Aquino defendeu ainda que naquelas instituições eclesiais, a par da “formação científica, teórica e técnica”, “não pode faltar a formação espiritual”, que, lamentou, ser “muitas vezes preterida”.

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