A paróquia de São Luís de Faro, através da sua equipa da Pastoral Familiar, promoveu no Dia Internacional da Família, 15 deste mês, – e no âmbito da Semana da Vida que a Igreja portuguesa celebrou de 11 a 18 deste mês –, uma conferência sobre o tema “Chamados ao amor a gerar a vida construindo o futuro”.
A iniciativa, que teve lugar no salão paroquial, contou com a participação de Filomena Horta Correia, médica de saúde pública, que aludiu às transformações sofridas pelas famílias nas últimas duas décadas, lembrando haver hoje vários tipos de família: “monoparentais, alargadas e tradicionais” ou “simples, complexas, alargadas e múltiplas”.
A oradora, que apontou a diminuição da família tradicional para aumento da monoparental e das famílias refeitas, constatou que, “cada vez, os casais estão a ter menos filhos”. “[As famílias] estão a diminuir o seu índice de fecundidade, a ser cada vez mais idosas”, verificou, sublinhando que também “os casamentos têm baixado, tantos os civis como os religiosos”. “Hoje em dia as pessoas não casam. Muitas vezes coabitam mas não casam, devido aos problemas que, às vezes, traz [essa opção] quando se separam”, justificou, explicando que, mesmo entre os que optam por casar, a “idade média do casamento vai aumentando” e que “a taxa bruta de divórcios aumentou”, bem como a “proporção de segundos e terceiros casamentos”. “São famílias muito complexas, o que vai agravar a necessidade em termos de habitação”, sustentou.
Filomena Horta Correia disse ainda que o nascimento de filhos fora do casamento também tem aumentado e que “as mães têm o primeiro filho mais tarde”. Não obstante existir uma “taxa de nascimentos e de fecundidade baixa”, explicou haver países que têm ainda menos crianças do que Portugal.
A conferencista referiu ainda a necessidade de “dar qualidade de vida às famílias”. “Isso tem sido feito”, considerou, acrescentando que “nunca houve tanto apoio [como agora]” e que “antes do 25 de abril já havia uma tentativa de melhorar o ambiente, o poder económico e os apoios às famílias”. No entanto, referiu casos de pessoas que têm um segundo emprego e que têm “muito pouco tempo para estar com a sua família e lhe transmitir alguns conceitos que são essenciais”.
A oradora aludiu ainda à importância do “equilíbrio, físico, psíquico e social” e à “atividade cerebral, física, espiritual” como algo fundamental para as famílias poderem “evoluir e desenvolver” em comunidade.
O padre Pedro Manuel destacou a importância do acolhimento aos casais que chegam às paróquias para pedir o matrimónio. “Os jovens que hoje chegam a uma Igreja ou a uma Conservatória do Registo Civil para se comprometer com outra pessoa, chegam como fruto da sua circunstância e não como fruto do nosso ideal ou das nossas utopias. Por isso, muitas vezes, nós, que temos a missão do acolhimento, temos também a missão de os ajudar a despertar para o significado daquilo que vêm pedir à Igreja”, afirmou.
O jovem sacerdote evidenciou que a família parte então do pressuposto do amor que “leva a dar a vida” como “um ideal sonhado por Deus” e que “o drama da felicidade acontece muitas vezes passando pela experiência do morrer para si”. “Muitas destas coisas, celebradas antes, quem sabe por tradição familiar e até por formação pessoal, hoje em dia, quando nos cheiram a compromisso, caem porque a facilidade de nos comprometermos hoje não é a mesma de há 40 anos”, afirmou, acrescentando: “porque muitos casamentos (inclusive católicos), mascarados de outra coisa qualquer, não partem disto, deparamos depois com a realidade que temos: de um divórcio, cada vez mais facilitado, e de uma circunstância de vida onde falar em morrer em função do outro parece linguagem retirada de um filme do século passado”.
O orador considerou que “este ideal [de família] terá sempre atualidade” e que a Igreja não pode deixar de o propor, mas afirmou ser “necessário encontrar respostas” e “acolher” aqueles que viveram uma primeira experiência mal sucedida e “não fazê-los sentir à margem ou à parte”. “As regras são para serem respeitadas mas não podemos ser escravos delas, nem algozes daqueles que não as conseguem cumprir. Temos de ser os primeiros a acolher a diferença destas famílias. Não podemos lavar de hipocrisia as nossas respostas quando sabemos que o mundo de hoje não se compadece com respostas de há 40 anos. Temos de transmitir muito mais o abraço do que o muro porque o muro quebrará a relação e pode afastar de Deus”, destacou, aludindo aos “dramas que surgem todos os dias numa paróquia com uma criança para batizar ou com as crianças na catequese”.
“Tantos dramas familiares que se resolveriam se, no momento em que são vividos, os esposos tivessem a capacidade de, por momentos em conjunto, voltar ao dia do seu casamento porque no dia do matrimónio houve uma força criadora, amante, por detrás, que os fez amar”, complementou.
O sacerdote, que exortou à “paternidade responsável” e aludiu à importância do perdão e à “liberdade e inviolabilidade da transmissão da vida” porque “aquele que é gerado tem direito a nascer”, criticou um “mundo individualizado” que “não admite, muitas vezes, a vida em família”. “Vive-se e, muitas vezes, afirma-se uma cultura do individualismo, do capitalismo e de que a pessoa tem de ser feliz a qualquer custo, mesmo que para isso tenha de passar por cima do próximo e afastar-se de Deus”, lamentou.
A terminar, destacou o matrimónio como caminho para Deus. “A experiência do matrimónio, baseado na consciência que tenho de me conhecer como filho de Deus, leva-me a olhar o outro como a oportunidade que eu tenho de chegar a Deus e de fazê-lo chegar a Deus”, disse.
com Rogério Egídio