É adulta, independente, resolvida, mas tem um traço de feitio, de maneira de estar e de ser que acentua a queixa, a lamúria. É uma coisa inconsciente, pois acontece sem premeditação, mas quando se apercebe, lá está o lamento, lá está a queixinha. Sem maldade, sem nada de mais, mas está. E marca um ritmo, como se fosse uma batida de fundo que coexiste com outros traços seus, maravilhosos, de generosidade, espírito criativo e foco, muito foco. Conheço-a há muitos anos e sei que esse traço, não determina toda a sua obra, leia-se, maneira de ser. 

Apesar de perceber que é um traço e não o desenho todo, digo-lhe sempre, quando estou com ela, para não se centrar na queixa, na lamúria. Para aligeirar, para viver a vida com a leveza possível que não lhe tira os problemas e as constatações amargas de uma-série-de-coisas-que-constelam-à-sua-volta, mas quem faz mesmo isso, aligeira. E ligeiros, andamos melhor, mesmo que o caminho continue uma estafa. 

É que o copo, tanto está meio cheio, como meio vazio, essa matemática da divisão ao meio, é factual e objetiva, mas a escolha de qual a metade que escolhemos priorizar, essa é, longe das matemáticas, só nossa.

E que boa, essa liberdade de escolher!