O bispo do Algarve redigiu uma nota pastoral à diocese algarvia na qual pede aos cristãos que se mobilizem para a primeira linha de combate à crise provocada pela pandemia de covid-19.

No documento – redigido ontem, dia em que a Igreja celebrou a solenidade da Assunção da Virgem Santa Maria, e divulgado esta tarde –, D. Manuel Quintas exorta todos os membros da Igreja algarvia “para a linha da frente para vencer a indiferença”. Esta expressão intitula mesmo a nota pastoral.

Lembrando os efeitos desta doença na vida em sociedade, o bispo diocesano começa por constatar que “a própria Igreja está a viver tempos novos” e acrescenta que, “atenta aos sinais deste tempo e na escuta das inquietações e angústias do homem de hoje”, “é chamada a levar a todos o conforto da fé e do pão partilhado, a confiança e a esperança em dias melhores pelo contágio do amor de Deus manifestado em Cristo ressuscitado”.

D. Manuel Quintas prossegue, garantindo que a Igreja Diocesana para além de querer “deixar a todos uma palavra de esperança”, quer “ser parte ativa não só na reflexão sobre este problema, que é de todos”, mas também na “mobilização para a linha da frente, no apoio aos mais necessitados, para reerguer a vida pública, familiar e cristã”. “Estamos todos no mesmo barco e fazemos todos, sem exceção, parte da grande família humana, que precisa de todos para minorar os efeitos desta Pandemia e vencer a COVID-19”, sustenta.

O bispo diocesano, que enumera os principais efeitos da pandemia na região, diz ser “evidente que o Algarve é uma das regiões mais afetadas, estimando-se um nível assustador de destruição de postos de trabalho” e fala numa situação de “emergência social”. “Dão-nos conta disso não só as associações empresariais e a comunicação social, mas sobretudo, as pessoas que se nos dirigem pedindo ajuda, nomeadamente nas instituições ligadas à Igreja, como a Cáritas Diocesana e as Cáritas Paroquiais, os Vicentinos, os grupos sociocaritativos paroquiais, os refeitórios sociais”, aponta.

D. Manuel Quintas alerta que o “recomeço passa necessariamente por não esquecer o valor inestimável de cada vida humana, a riqueza da vida dos idosos, a redescoberta do papel da família, o papel do Estado, mas também o da sociedade civil”.

O bispo do Algarve lembra que esse “reerguer” da vida “passa por compreender que a comunhão é geradora de vida” e “só através dela” se conseguirá, “enquanto grupo e pondo a render as virtudes e talentos de cada um, dar resposta aos problemas e caminhar num sentido positivo”.

D. Manuel Quintas escreve que “o Algarve tem carências elevadas nas respostas sociais e na área da saúde, que urge colmatar” e que “a saúde pública deve procurar a equidade e ser reforçada na região”. “É tempo de fazer diferente”, considera.

Aos governantes, o bispo do Algarve lembra que “o tempo é curto e não se compadece com normas administrativas complexas e exigentes”. “Quando um náufrago pede socorro não espera promessas de ajuda, sujeitas a uma burocracia desencorajante, mas que lhe seja lançada uma bóia de salvação e urgentemente ajudado a sair da situação em que se encontra”, sustenta.

Aos algarvios, D. Manuel Quintas deixa um apelo: “É tempo de valorizar o que é nosso, não esquecendo as festas e tradições, ainda que as vivendo de modo distinto, consumindo produtos locais, fazendo aqui as suas férias, usufruindo da gastronomia regional na restauração, visitando os nossos monumentos e museus, cumprindo sempre as normas de segurança e os cuidados previstos para este tempo”, escreve, sublinhando que este é também um modo de “construir a comunhão” e “ajudar o próximo”, ajudando a “reerguer a economia” do Algarve.

Reestruturação do serviço sociocaritativo da Igreja algarvia

O bispo diocesano exorta todo clero algarvio com os leigos que os assistem, “a que avaliem sobre a necessidade de uma reestruturação do serviço sociocaritativo, se necessário, de modo que toda a comunidade se sinta na linha da frente, comprometida e empenhada na resposta às emergências sociais já existentes ou que, porventura, possam vir a surgir ou a aumentar, sempre abertos a trabalhar em rede com outras instituições com a mesma finalidade”. “Esta mesma tarefa é indicada, de modo explícito, a toda a Diocese pelo nosso Programa Pastoral para o próximo ano”, acrescenta.

O bispo do Algarve exorta, igualmente, a Cáritas Diocesana e o Departamento de Pastoral Social “a coordenar e a implementar ainda mais este serviço na Diocese”.