Há muito tempo que a inteligência deixou de ser o mais importante critério de avaliação. Melhor e para ser mais preciso: a inteligência académica e a capacidade intelectual há muito tempo que deixaram de ser um critério absoluto e universal na avaliação da Inteligência de uma pessoa, na hora de ser promovido, ou despromovido no seu trabalho.
Na minha opinião, uma das poucas exceções nesta matéria, até há pouco tempo, era a Igreja Católica, sobretudo nos candidatos/as ao exercício de alguma função, ou serviço na sua estrutura hierárquica, ou funcional. Apesar de tantos de nós falarem com apreço de São João Maria Vienney (Santo Cura d’Ars), conhecido pelas suas dificuldades intelectuais e académicas, mas também pela sua entrega ao sacramento da reconciliação e à oração, usamos essa referência, tantas vezes, de forma demagógica e puramente retórica. Pelo menos há quinze/vinte anos, o principal critério de avaliação de um candidato ao sacerdócio ordenado era o seu desempenho académico e o seu interesse intelectual. Prova disso, é que na formação permanente do clero e, provavelmente, na formação dos futuros sacerdotes, dá-se mais destaque à parte académica, do que à parte relacional e emocional. Porém, o Papa Francisco veio mudar esta perspetiva, desde 2013, ao escolher para seus conselheiros pessoais diversos sujeitos, cuja principal riqueza não é serem intelectuais, mas terem uma enorme capacidade de relação humana, de contacto com a realidade e de tocarem a realidade.
Exemplo disso, entre outras escolhas, é a eleição de D. Américo Aguiar, que, segundo o próprio, não é um intelectual, mas posso assegurar é uma pessoa com uma Inteligência Interpessoal e Existencial (e volto a referir Howard Gardner, investigador dos EUA e a sua Teoria das Inteligências Múltiplas) acima da média.
Conheço D. Américo Aguiar desde 2008. Ele, como Vigário-geral da Diocese do Porto, entre outras coisas; eu, como Diácono da Diocese do Algarve e na altura a trabalhar na criação do Gabinete de Informação da Diocese do Algarve (GIDAlg). Não lhe vou fazer um elogio gongórico. Não gosta. Não precisa. Não merece que lhe faça essa maldade. Digo apenas que aprendi muito com ele e que é meu amigo. Sei que o é, devido às circunstâncias da vida. O mais não interessa. Mas o que eu quero realçar é que D. Américo Aguiar encarna aquilo que se espera da hierárquica eclesiástica do futuro: alguém próximo. Que se relaciona com todos. Que procura uma Igreja descentralizada do clero, para ser uma igreja ao lado de cada um, sem fazer aceção entre cristãos e não cristãos, mas demonstrado respeito, amor e capacidade de acolhimento a todos, sobretudo aos mais doentes e mais frágeis. E, ainda, uma Igreja que trabalha, que arregaça as mangas e não se fica pelas rendas e pelo incenso, ou pela crença mais ligeira e com raízes menos sólidas, mas que constrói, melhor ou pior, constrói e, construindo, dá testemunho e faz crescer a Fé, sem proselitismos, nem radicalismos, mas cheia «de graça e de verdade» (João 1:14).
E sabem uma coisa? Essa sempre foi a proposta de Cristo, a de que os que o seguissem acolhessem os pequeninos, os mais frágeis, os que, diz o atual Papa, com muita agudeza, estão nas periferias. Essa Igreja de todos e com todos é aquilo que Cristo desejava e que, também eu, nas minhas orações, peço que se erga. E para isso, precisamos de operários capazes e com espírito.
É o que desejo a D. Américo Aguiar: que nunca lhe falte a esperança e a vontade de ser sinal de Deus para todos.