Padre Miguel Neto
Padre Miguel Neto

A nossa região algarvia é conhecida pelo sol, praia, clima ameno, noites quentes ou pouco frias, festas na praia, enfim, uma multiplicidade de aspetos que nos transportam para um sítio paradisíaco e de sonho. E assim é, de facto, na maior parte do ano! O Algarve não é conhecido por ser uma região de muita chuva e intempéries. Talvez por isso, nas últimas décadas tem-se construído um pouco de tudo, em cima de locais que outrora eram ribeiras, sapais, ou canais por onde circulava a pouca água gerada por alguns invernos mais chuvosos.

Ora, o que se verificou há dias em Albufeira não foi outra coisa senão a manifestação da natureza diante da “opressão” que dela fez e faz o Homem. Mas o que ainda é mais lamentável é a postura do recém-empossado ministro da administração interna, Calvão da Silva, ao afirmar que «a fúria da natureza não foi nossa amiga. Deus nem sempre é amigo, também acha que de vez em quando nos dá uns períodos de provação».

Deus nem sempre é nosso amigo! O “teólogo” Calvão certamente defende que Deus tem a culpa dos erros urbanísticos, acumulados ao longo dos anos, já que a antiga ribeira de Albufeira, que regulava o sistema hidráulico, chama-se agora Avenida 25 de Abril. Defenderá, também, que Deus tem culpa do encerramento das comportas que regulam o caudal da ribeira, que vem do Norte da cidade, encerramento esse que resultou na formação de três diques antes da chegada à rotunda das Descobertas e foram esses diques que engrossaram de caudal até a água saltar em fúria e, a partir desse ponto, a enxurrada seguir avenida abaixo, em direcção ao mar, arrastando todos os objetos que encontrou pela frente. Terá sido Deus quem autorizou que a massa urbanística ocupasse o leito de cheia, como se no Algarve não houvesse Inverno…

É que se foi assim, Deus é mesmo muito cruel para a população de Albufeira, já que a precipitação que se fez sentir com maior intensidade ao princípio da tarde de domingo nessa localidade, não foi muito diferente da carga de água que se abateu sobre os concelhos de Loulé, Faro, Silves e outros…

Provavelmente, Calvão da Silva não será ministro da Administração Interna por muito tempo. Mas arrisco-me a dizer que vai ficar na memória por muito tempo! É sempre interessante ter um ministro teólogo, que procura interpretar no desrespeito pela natureza da mão humana, a vontade de Deus.

Mas para além de teólogo, Calvão da Silva é um excelente promotor de seguros. Pelo menos defende que o melhor antídoto contra a “vontade maléfica de Deus” é um seguro, pois todos ficámos a saber que «quem não tem seguro, aprende em primeiro lugar que é bom reservar sempre um bocadinho para no futuro ter seguro». É preciso não esquecer que quem «tem um pequeno pé-de-meia, em vez de o gastar a mais aqui ou além, paga um prémio de seguro». Ou então, só poderá lamentar-se e dizer, como os incrédulos, “fia-te na Virgem – que é como quem diz, fia-te em Deus – e não corras”!… Que lição de vida nos deu este senhor!

Pe. Miguel Neto