(sobre educação)

Posso correr o risco de me repetir, mas à medida que a vida vai correndo (que é outra maneira de dizer, “à medida que vamos ficando mais velhos”…), vou dando maior valor e peso a certas coisas que também me definem como sou e não há volta a dar. É o que é e pronto. Aquele mundo de coisas como a cortesia, a curiosidade, a simpatia, a educação, a relação com os outros, num esquema dinâmico de trocas de afetos que sejam significativos e que contribuam para o equilíbrio de cada um, serão sempre coisas altamente sedutoras para mim, a par da delicadeza e da educação (não só instrução), de ideias firmes, de sentido crítico e de capacidade de ouvir com respeito. Se se puder aliar a isso a assertividade na defesa das posições, um certo humor e capacidade de rir de si próprio, perfeito!

E constato com alguma tristeza que nada deste mundo de coisas é trabalhado na escola, pelo menos de forma plena, mesmo que se diga que sim e mesmo que todos os normativos vigentes que regem as práticas educativas, defendam, na essência a individualidade e as aprendizagens não formais de currículos, esse tal mundo de coisas. Ao invés, considero haver uma certa política vigente de massificação (e estupidificação, atrever-me-ia a dizer…) dos alunos e alunas na escola, contrariando a ideia que tenho daquilo que deve ser uma escola e contrariando até, os normativos vigentes de que falava que, na essência, defendem tudo isso, mas que depois, caem desgovernados num caos burocrático, tecnocrático, logístico, processual, institucional, absolutamente incapaz de dominar e que faz a escola transformar-se, muitas vezes e com facilidade, num cenário pouco apelativo, pouco significativo e longínquo para tantos miúdos e miúdas que não são estimulados para conhecer, discutir, ponderar, criticar e posicionar-se. Não são estimulados para o brio e esforço individuais que depois pode ser premiado por conquistas e desempenhos, não são preparados para desafios constantes que exigirão esforço e preparação e nunca demissão ou indiferença. Massifica-se, uniformiza-se numa amálgama gigante onde todos têm de caber, porque se tem de ser inclusivo, mas onde não se sabe o que sabem, o que são, o que querem, como querem, como poderão ser e como poderão querer, logo, não se inclui nada, mesmo! Gastam-se recursos, tempo e ânimo em coisas que não servem para nada e queima-se tempo, etapas e percursos que não chegam sequer a maturar. E por isso me sinto assim-como-que-meia-extra-terrestre-sem-saber-muito-bem-o-que-ando-aqui-a-fazer, tal como imagino, sem dificuldade, que se devem sentir tantos colegas meus, esmagados pelo “ter de ser assim”.

Não sei. Não queria politizar esta reflexão. Só tenho a veleidade de a querer pessoal e por isso, valerá o que valerá. O que sei é que sem exigência não há mérito ou desenvolvimento e por isso, continuar a baixar fasquias até níveis quase subterrâneos, pensando que assim se está a ajudar e entrando nesta espiral de tanta-coisa-e-coisa-nenhuma, não será certamente o caminho, nem é sinónimo de incluir nada. Pode ser é sinónimo de facilitismo excessivo e perda de significado e a escola se for significativa, exigente, criativa e inovadora terá lá dentro, de certeza, aquele outro mundo de coisas. Porque é assim que tem de ser.