Foi notícia em todos os meios de comunicação social. Em Agosto último, durante uns dias, comentou-se o insólito. Não só o facto ocorrido, mas também as causas e os efeitos. Falou-se de incúria e até de sabotagem política. Mas os peritos chegaram rapidamente à conclusão que a palmeira caída, numa noite de comício na ilha de Porto Santo, tinha as raízes podres, sem vida que a agarrassem por mais tempo ao solo. O desastre provocou a morte de uma mulher portosantense e deixou gravemente feridos dois continentais, mãe e filho, levados imediatamente para o hospital do Funchal. Durante quase uma semana foi-se sabendo que continuavam mal, em risco de vida. E, como é natural, logo depois a notícia deixou de ser notícia.
Exemplarmente, também nesta ocorrência se coloca a pergunta: teria o acidente sido “a vontade de Deus”? teria sido Ele a dar um empurrãozinho à palmeira, ou estaria distraído naquele momento?…
Pois bem: apesar das dúvidas e da dor, do insondável e do insuportável, com este caso concreto vem a propósito tornar a lembrar que: “se o Mal é um enigma que nos cala, o Bem é um mistério ainda maior, é uma pergunta ainda mais funda, vasta e silenciosa”. Não podemos descortinar o enigma do Mal, talvez apenas o possamos sentir calado no fundo do coração. E o mistério do Bem, também será aqui uma pergunta? Claro que é, mas quebra o silêncio com o conhecimento dos factos:
O rapaz sinistrado é o David, radiologista num hospital de Lisboa. Tem mais dois irmãos (um rapaz e uma rapariga) e tinham ido os cinco passar férias em Porto Santo. Pai e mãe são professores. Com um grande leque de amizades que se abre à sua volta. Os filhos pertencem a um grupo de jovens da paróquia onde residem. E todos eles, jovens e adultos, de boca em boca, de mensagem em mensagem, promoveram uma vigília de oração, de amizade e de solidariedade pelas melhoras do David. Foi no princípio de Setembro, no dia em que o David completou 25 anos de idade. Dando rosto a esta realidade.
– “O que o cristianismo representa é uma pessoa em carne e osso, da qual se faz a mais genética e incisiva das proclamações: Eis o Homem! É uma história de homem que o cristianismo se propõe testemunhar, explicitando a forma como essa história radical se cruza com a nossa. Não temos de seguir uma ideia, temos de ser!”
Ser ideia e ideal, ser pessoa, ser cristão. Porque acreditar é a entrega total e absoluta do ser.
Cá fora, antes de começar a vigília, os familiares revelaram que, pela primeira vez, nessa tarde, o David tinha saído do coma.
O estado dos sinistrados tem sido de altos e baixos. Continua muito grave. As notícias deste último fim-de-semana referem melhoras. Iluminadas de esperança.
Também nesta situação o mais importante, como lembrava o Papa Bento XVI aos artistas, é a descoberta de um caminho que nos conduza a “colher o Todo no fragmento, o Infinito no finito, Deus na história da humanidade”.
As vigílias ainda não pararam. Têm-se realizado todos os fins-de-semana. Sempre com a igreja cheia. O Bem é um mistério ainda maior que o Mal.
E é este mistério que revela e assinala os trilhos por onde passa a Verdade. Uma verdade que é Vida. Uma vida que é feita de lágrimas e de risos. Mesmo na alegria, ”são as lágrimas aquilo que permite a alguém ser santo depois de ter sido homem”.