Foto © Samuel Mendonça
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O encontro de louvor, promovido no passado sábado pelo Renovamento Carismático Católico (RCC) do Algarve, serviu de preparação para o Ano Santo da Misericórdia, proclamado pelo papa Francisco para se realizar em toda a Igreja de 8 de dezembro de 2015 a 20 de novembro de 2016.

Na iniciativa, que teve lugar na igreja de Nossa Senhora do Carmo, em Faro, o padre Carlos Silva evidenciou que o amor de Deus em contacto com o pecado torna-se misericórdia. “A misericórdia é amor que vê a miséria alheia e sente como se fosse própria, desejando loucamente irradiá-la da melhor forma possível. É assim que Deus nos ama. Ele olha para a nossa fraqueza e para as nossas falhas e contempla-as como se fossem suas. E não só se compadece da nossa miséria, mas intervém ativamente para que nos vejamos livres dela. O amor de Deus, em contacto com a nossa miséria, com o nosso pecado, torna-se misericórdia, um amor misericordioso que nos quer libertar da nossa miséria, do nosso pecado e dar-nos uma vida nova”, afirmou o orador do encontro que teve como tema “A Misericórdia de Deus”.

“Quando a misericórdia de Deus exerce em nós a sua ação, não só somos perdoados dos nossos pecados, mas recebemos também a vida nova que nos vem de Deus. Portanto, a misericórdia não é só fonte do perdão dos pecados. É também fonte de vida”, prosseguiu.

Foto © Samuel Mendonça
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Da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (dehonianos), o padre Carlos Silva, que dá apoio a grupos de oração do RCC que o solicitam e que é pároco de Póvoa de Santa Iria, no concelho de Vila Franca de Xira, onde existem dois desses grupos, começou por referir-se à misericórdia divina no Antigo Testamento, classificando esta como um “sinal de Deus”. “Por ser amor, a misericórdia não se contenta com experimentar passivamente sentimentos de compaixão, mas atua e toma a iniciativa da ação sem esperar ser solicitada”, afirmou.

De tarde, abordou o tema à luz do Novo Testamento, através da misericórdia de Cristo. “Jesus veio para nos mostrar que Deus é amor e misericórdia”, destacou, lembrando que “o amor de Deus é um amor fiel” e que “ama sempre”. “Jesus Cristo é a encarnação de um amor que se manifesta com particular intensidade em relação aos que sofrem, aos infelizes, aos pecadores e torna presente, desse modo, o Deus rico em misericórdia”, afirmou o orador que foi pároco de Castro Marim e Monte Gordo de 1995 a 2001, lembrando que “Jesus quebrava todas as regras sociais para ir em busca do pecador para lhe mostrar o rosto misericordioso de Deus”.

O padre Carlos Silva lembrou que o “momento supremo da manifestação da misericórdia de Deus em Jesus é o seu mistério pascal”, ou seja, a sua morte e ressurreição. “Se quisermos exprimir totalmente a verdade acerca da misericórdia de Deus, com a plenitude com que foi revelada na história da salvação, devemos penetrar de maneira profunda nesse acontecimento fundamental que é o mistério pascal. Aí descobrimos, de modo mais sensível e histórico, a profundidade do amor de Deus que não retrocede diante da extraordinária revelação do Filho para com a humanidade”, afirmou, lembrando que “os acontecimentos de Quinta e de Sexta-feira Santas introduzem uma mudança fundamental em todo o processo da revelação, do amor e da misericórdia de Deus na missão de Cristo”. “Aquele que passou fazendo o bem, curando a todos e sarando toda a espécie de doenças e enfermidades, mostra-se agora Ele próprio digno da maior misericórdia. Cristo, na sua ressurreição, experimentou em si, de um modo radical, a misericórdia, isto é, o amor do Pai que é mais forte do que a morte”, complementou.

Foto © Samuel Mendonça
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O palestrante lembrou que “a misericórdia divina é infinita”, advertindo contudo para um perigo: “abusar da misericórdia de Deus, acomodando-se na vivência cristã”. Porque “Deus não impõe a sua misericórdia e o seu perdão a quem não o pede ou a quem não o quer receber”, explicou que a graça “tem de ser acolhida e abraçada” e que, “por conseguinte, é necessário tomar consciência mais profunda e particular da necessidade de dar testemunho da misericórdia de Deus, revelada em Cristo, professando-a em primeiro lugar e procurando introduzi-la e encarná-la na vida da humanidade”. “É este o objetivo do Ano Jubilar da Misericórdia”, considerou.

O sacerdote salientou ainda que “a Igreja tem o direito e o dever de apelar para a misericórdia de Deus”. “Quanto mais a consciência humana, vítima da secularização, esquecer o próprio significado da palavra misericórdia e quanto mais, afastando-se de Deus, se afastar do mistério da misericórdia, tanto mais a Igreja tem o direito e dever de apelar com grande clamor para o Deus de misericórdia”, destacou.

Referiu-se à mensagem de Jesus sobre a misericórdia, através das revelações a Santa Faustina Kowalska (1905-1938), religiosa polaca canonizada por São João Paulo II em 2000, o padre Carlos Silva sublinhou que a atitude “fundamental” para acolher a misericórdia de Deus é a confiança. “Jesus sente-se como que «obrigado» a conceder graças àqueles que confiam n’Ele. Se quereis obter graças do Senhor, tende uma grande confiança”, pediu.

Foto © Samuel Mendonça
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A terminar, referiu-se às três formas de exercer a misericórdia de Deus – ação, palavra e oração –, salientando que quem a recebe torna-se capaz de ser misericordioso com os outros. “É necessário que tudo o que se possa dizer sobre a misericórdia de Deus se transforme em fervorosa oração. A oração é um grito de súplica à misericórdia de Deus perante as múltiplas formas de mal que pesam sobre a humanidade e a ameaçam”, frisou.

O encontro, que contou com a celebração da eucaristia ainda de manhã e com a recitação do chamado ‘terço da Divina Misericórdia’, uma devoção baseada nas visões de Faustina Kowalska, teve ainda continuidade com a adoração ao Santíssimo Sacramento.

O RCC conta no Algarve com 18 grupos, de Lagos a Vila Real de Santo António.