Realizou-se no passado sábado de manhã, o primeiro encontro da “Escola de Órgão da Catedral”, promovida pelo Cabido da Sé de Faro.

O cónego José Pedro Martins, deão daquela entidade, considerou aquela iniciativa uma “aventura” que “já há muito que é desejada”. “Desde há muito temos vindo a pensar na formação de organistas. Não tem sido fácil”, observou, contando que a formação que agora vai ser iniciada surgiu de um desafio que fez ao organista André Ferreira que lecionará as aulas.

No encontro que teve lugar no salão de atos da própria catedral de Faro com a presença de 19 candidatos a alunos de várias faixas etárias, o cónego daquela Sé evidenciou a tradição musical litúrgica daquela igreja. “Esta catedral respira um caminho de vida litúrgica com a sua música, com os seus órgãos”, afirmou, lembrando que o órgão histórico maior da Sé de Faro completou este ano 300 anos de idade. “Há um passado que catalisou a vida litúrgica das nossas comunidades”, acrescentou, lembrando que “a catedral é a mãe de todas as igrejas” e ali “se procura uma liturgia-modelo”.

“O órgão tem um passado que foi abraçado de uma maneira muito particular pela Igreja”, prosseguiu, considerando que “a liturgia sem a música não coze bem”.

O organista André Ferreira lamentou que o Algarve seja “uma região onde não há ninguém profissional” naquela área.

“Aumentar a qualidade na liturgia não é difícil, temos é que estar dispostos a isso. E obviamente, que tem de haver ensino”, disse, considerando que “acompanhar liturgicamente ao órgão não é difícil, mas requer compromisso e continuidade”. “Temos de aprender e trabalhar em casa”, advertiu, considerando que “a música é fulcral na liturgia”.

O músico adiantou que serão realizadas duas aulas por mês e que as mesmas incluirão também visitas a algumas igrejas. “Queremos conhecer os instrumentos que temos na nossa diocese exactamente para conhecer as diferenças e as características porque cada instrumento é completamente diferente”, justificou, dando como exemplo o exemplar da Sé de Faro. “O órgão fez 300 anos. Eu não encontro nenhum órgão electrónico que dure mais de 30”, comparou.

O organista admitiu a possibilidade de as aulas poderem contar com a participação do organeiro Dinarte Machado. Nem sempre nos é possível contactar com as pessoas que fazem o instrumento. Nós tocamos o instrumento, mas há toda uma ciência de quem faz o instrumento”, justificou.

André Ferreira é professor de órgão na Escola Diocesana de Música Sacra do Patriarcado de Lisboa. No ano letivo transato lecionou no Conservatório Regional de Ponta Delgada, Açores. É licenciado em órgão pelo Conservatório de Amesterdão, Holanda, onde estudou com Jacques van Oortmerssen, tendo igualmente trabalhado com Pieter van Dijk. Concluiu o mestrado em órgão na Escola Superior de Música de Lisboa, sob a orientação João Vaz. Iniciou os seus estudos de órgão com António Esteireiro no Instituto Gregoriano de Lisboa, continuando posteriormente com Jos van der Kooy no Conservatório de Haia, Holanda.

O gosto pela música antiga levou-o ao estudo do oboé barroco com Maria Petrescu, sendo presentemente aluno de licenciatura na classe de Pedro Castro, na Escola Superior de Música de Lisboa. Colabora como organista com a paróquia de Santa Maria de Belém, Mosteiro dos Jerónimos, e com a paróquia de São Tomás de Aquino, também em Lisboa.