1 – Assim como a chuva e a neve descem do céu para regar e fazer germinar a terra, assim também a Palavra de Deus não volta à sua origem sem ter produzido efeito, sem ter executado a vontade de Deus e cumprido a sua missão (Cf. Is.55,10-11) Esta palavra de que nos fala o Profeta, não é um vocábulo, mas uma Pessoa; é a Pessoa do Filho de Deus, o Verbo eterno que veio a este mundo e regressou ao Pai, depois de ter realizado a missão para que viera a este mundo. Mas esta missão só se realizou naqueles que O acolheram. A esses, «deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus» (Jo.1,12). De facto, a Palavra de Deus, o Verbo divino, ao fazer-se homem, assumiu a nossa natureza humana, com o objectivo de se identificar connosco, a fim de também nós nos identificarmos com Ele, enquanto participantes na sua natureza divina.

Esta identificação significa deixarmo-nos invadir pela sua vida, derramada em nós a partir da sua Encarnação e Redenção, por meio da mediação sacramental da Igreja. Esta só será, verdadeiramente, o seu «Corpo», se se deixar invadir e penetrar pela Palavra, não só como sua ouvinte, mas como sua anunciadora: «Ai de mim, se não anunciar a Boa Nova» (1Cor.9,16).

2 – Por isso, a primeira obrigação da Igreja, em relação a este mundo, no seio do qual ela vive, consiste em anunciar e testemunhar a Palavra de Deus, ou seja a Boa Nova que é Cristo. Foi nele que Deus se deu a conhecer e nos revelou o seu plano de salvação para toda a humanidade. Ele é a Revelação. Portanto, anunciar a Palavra é anunciar a Pessoa e a mensagem anunciada por Jesus, o Messias de Deus. Como, porém, tudo isto é feito pela mediação sacramental da Igreja, todos os seus membros são chamados a evangelizar, qualquer que seja o seu estado de vida ou idade e cultura. Cada cristão, por conseguinte, tem como missão primária da sua vida, enquanto membro do Corpo de Cristo, a Igreja, ser anunciador da Boa Nova de Cristo, no seio da família e no interior da comunidade em que se insere. O Evangelho destina-se a toda a humanidade: aos que nunca ouviram falar de Cristo; aos que ouviram, mas nunca O acolheram em suas vidas; aos que se colocam em atitude de recusa, face à sua Palavra; aos que se desviaram, em seus caminhos, da observância da sua mensagem; aos que pretendem viver sem referências de fé; aos que dizem professar outras religiões não cristãs. Todos os que vivem neste mundo são, por vontade de Deus, destinatários do Evangelho, independentemente da sua atitude de acolhimento ou de recusa. À Igreja cabe a difícil, mas gratificante missão, de o dar a conhecer, sem nada impor, e respeitando sempre a liberdade de cada um. Por isso, é que ela tem a missão de o anunciar, com a Palavra e, sobretudo, com o testemunho de vida dos seus «filhos». Dar a conhecer a Boa Nova de Cristo ao mundo pagão ou ao mundo indiferente, deve ser a «paixão» prioritária de todos os baptizados, em Cristo.

D. Manuel Madureira Dias
*BISPO EMÉRITO DO ALGARVE

O autor deste artigo não o escreveu ao abrigo
do novo Acordo Ortográfico