(para a …)

Tive há poucas horas uma notícia desastrosa que me desconcertou completamente e tenho de escrever, isso ajuda-me a arrumar a cabeça, aproveitando a velha boleia da escrita para processar isto, esta coisa chamada “notícia má”, que me desconcertou.

Enquanto ando aqui às voltas com insignificâncias parvas do dia-a-dia, com cansaços estéreis, com miudezas do meu mundinho de todas as horas, alguém de quem gosto muito, que é, linda, pujante, competente, alegre, dedicada e delicada, generosa, apaixonada pela vida e mãe, esposa, companheira e colega, anda a debater-se há um par de meses com um diagnóstico grave, relativo à sua saúde. Há um par de meses. E eu, enredada em miudezas microscópicas, perante a sua ausência, tenho flutuado pelos “tenho que lhe ligar”, “tenho que saber dela”, “há que tempos não a vejo”. E passa um dia e outro e outro e foi hoje, que lhe liguei. Só hoje. E não sei agora o que dizer disto. Não consegui processar. Como assim? Com que rapidez? Com que gravidade? Com que causa? Com que sintoma? Mas assim tão silencioso? Tão assintomático? E há um par de horas que estou a remoer por aqui este enleio de perguntas que, simplesmente, não têm resposta, quase como se isto tudo fosse uma roleta surda e, aleatoriamente, lá calhasse, de vez em quando, alguém. Como lhe fazer sentir agora a minha presença? A minha amizade? O meu desejo de que tudo corra bem? Como equiparar isto tudo que sinto à magnitude do que ela deve estar a sentir? Poder-se-á equiparar? Poderei ter essa veleidade? Tenho que ter. Tenho que atrever-me a pôr no meu desejo de melhoras, toda a força que sinto, como se quisesse que esse desejo fosse o mais transparente possível e o mais límpido possível, de tão sincero que é. E é. Do fundo do meu coração. Com aquele “estou contigo” de quem se gosta, como lhe dizia numa mensagem.

“Estou contigo”, mesmo. Para uma conversa, um desabafo, um conselho, uma opinião, ou mesmo para um silêncio que tem só olhar. “Estou contigo”, numa distância preenchida com o pensamento, com a oração, com a entrega do teu problema aos desígnios do Alto. “Estou contigo” para tudo o que precisares, minha querida, certa da tua cepa e coragem.

Ainda flutuas por aqui no meu pensamento que me tira o sono por agora. Não sei se este desconcerto vai passar rápido, mas sei que tinha de o escrever e descrever. Para ver se o acalmo. Assim, com palavras e entrega, só entrega… confiante.

P.s. – É-me sempre difícil escrever para quem não conheço. Tenho uma mania, a de “pessoalizar” muito o que escrevo. Por isso, escrevi para ELA… mas quem sabe, possa este texto servir para todos os amigos dos que, por estes dias, passam por momentos complicados de saúde, e que ficam assim, desconcertados como eu. Talvez, à boleia destas palavras, se possam sentir identificados e entregar também confiadamente, tudo o que de bom desejam para os seus.