Os períodos de campanha eleitoral são sempre tempos em que ouvimos e falamos das nossas preocupações. Muitos de nós temos a perceção de que, só seis meses antes de qualquer eleição, é que começa a haver a preocupação dos políticos e daqueles que se candidatam a cargos públicos, em falar sobre as reais inquietações das pessoas.
E, mesmo assim, tantas vezes elas não são os principais temas dos debates. Sobretudo, aqueles assuntos que são tratados no âmbito nacional, mas que são completamente desfasados do âmbito local. Por exemplo: quando um candidato a primeiro-ministro fala do estado das linhas de caminho de ferro em Portugal, de certeza que não tem a noção do mau estado do transporte público na região do Algarve, onde, muito provavelmente, um dia não chega para ir de Aljezur a Alcoutim viajando dessa forma. Menciono esta situação, porque é um assunto que, consensualmente, é um grande deficit na nossa região, ainda para mais, tendo só uma autoestrada, que é paga, para fazer este mesmo percurso de 187 Km, em menos de 3h. Enquanto os políticos e os que fazem da política partidária o seu campo de ação e trabalho não falarem dos problemas concretos das pessoas, a abstenção não vai diminuir.
Porém, o mesmo problema temos nós na Igreja. Tendencialmente, falamos usando uma linguagem hermeticamente fechada e desconhecida do grande público. Abordamos aquilo que consideramos ser o mais importante e que devia preocupar as pessoas, segundo a nossa opinião, esquecendo que, se não falarmos do que preocupa as pessoas, elas não querem saber de nós, não querem saber da Igreja. Por exemplo, o nosso objetivo primário enquanto cristãos é alcançar e fazer que outros alcancem a vida eterna. Todavia, não há, neste momento, assunto menos preocupante para as pessoas. A esperança de vida aumentou, logo o fim da vida está muito longe; as condições de vida melhoraram muito, logo, ao contrário do tempo de Jesus Cristo e da época áurea da cristandade, a generalidade de nós não ambiciona uma vida melhor do que a que tem na realidade, vida melhor essa, que passa por chegarmos a um mundo que tantos duvidam existir e desconhecem onde é.
As pessoas querem é viver eterna e saudavelmente, aqui. Por isso é que tem mais impacto nas comunidades um bispo que coloque o resultado do seu exame à próstata no Instagram, do que um bispo que afirma, no Instagram, que para alcançar a vida eterna temos que nos converter a Jesus Cristo. No primeiro caso, é um clérigo a falar diretamente aos homens acima dos 50 anos (a maior percentagem da população masculina portuguesa), que têm de fazer esse exame, mas têm medo, ou sentem um certo estigma social, resultado de um pseudo preconceito criado entre os homens. Fala do concreto, do quotidiano, para, dessa forma, fazer o bem e ser exemplo e testemunha. No segundo caso, estamos ante um clérigo que nos diz que alcançaremos a eternidade, mas que antes temos que sofrer, deixar os nossos e abandonar este mundo cheio de coisas que gostamos. Infelizmente, não chega aos corações e à realidade concreta das pessoas, que não têm e não querem ter tempo para pensar nisso.
Se a Igreja não adequar a linguagem, não falar dos problemas reais das pessoas, nos canais onde elas estão, corre o risco de viver centrada nas suas idiossincrasias e temáticas. Pesarosamente, tal posição é nefasta e hermeticamente fechada. E não é o que nos pede o Evangelho.