© Luís Forra/Lusa
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A prevista redução do molhe de Ferragudo para permitir a entrada de grandes navios de cruzeiro em Portimão, está a preocupar os autarcas de Lagoa, que temem um aumento da insegurança na zona ribeirinha.

A zona ribeirinha de Ferragudo, pequena vila piscatória, atravessada por um canal fluvial e que está separada de Portimão pelo Rio Arade, costuma ficar inundada sempre que há tempestades, ondulação forte ou marés vivas, o que por vezes sucede mesmo no verão, alagando o principal largo da vila, onde se situa boa parte do comércio e restauração.

As intervenções previstas para o porto de Portimão – que permitirão que a estrutura possa receber navios de cruzeiro de grande porte, atualmente impedidos de aceder à infraestrutura por falta de desassoreamento dos canais de navegação -, vão obrigar a uma reconfiguração do molhe de Ferragudo, que deverá ser diminuído em cerca de 70 metros.

Em declarações à Lusa, o presidente da Junta de Freguesia de Ferragudo, Luís Alberto, disse que, apesar de ainda se aguardar pela conclusão de estudos técnicos, “tudo leva a crer” que a diminuição do molhe vai fazer com que haja uma maior deposição de areia em determinadas zonas e, por outro lado, uma maior probabilidade de inundações em Ferragudo.

© Luís Forra/Lusa
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“O que vai acontecer é que, não só em caso de chuva, mas quando houver marés cheias ou maré maior, iremos ter zonas mais inundadas”, afirmou, argumentando que é a favor do desenvolvimento turístico, mas desde que as populações e os turistas estejam protegidos.

Anabela Simão, vereadora da Câmara de Lagoa com os pelouros do Ambiente e Litoral e Orla Costeira, manifestou à agência Lusa uma “grande preocupação” com a prevista intervenção, afirmando que aguarda a conclusão do estudo da hidrodinâmica do local, que está a ser efetuado pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

“Uma das coisas nefastas que podem acontecer é a retirada de areias das nossas praias estuarinas, segundo nos dizem os nossos pescadores”, afirmou, lembrando que a tempestade registada em janeiro do ano passado fustigou toda a zona do molhe de Ferragudo, arrastando pedras de grande dimensão para o lado do rio.

Ouvido pela Lusa, André Dias, do Centro de Observação de Cetáceos do Algarve, que opera a partir de Ferragudo, afirmou que a barra de Portimão “é uma das mais seguras do país”, em termos de entrada de mar, uma vez que apenas não está protegida contra o mar que vem do Sul, o que só acontece “uma vez por ano, ou de ano a ano”, tempestades que conseguem sempre prever-se com alguma margem.

“Obviamente, se ela [a barra] for um pouco maior, a onda entra com mais força e pode causar algum tipo de problema, no entanto, face ao histórico que existe, comparando com o que acontece noutras barras, não vejo isso como um grande problema e vejo mais até como uma oportunidade para a região”, defendeu o biólogo.

Além da intervenção no molhe da entrada da barra de Portimão, está ainda prevista a requalificação do cais ribeirinho de Ferragudo e da Praia da Angrinha.

No primeiro caso, deverá ser feito um reordenamento da área ribeirinha, onde os pescadores depositam atualmente as suas artes de pesca, delimitando a área atribuída a cada barco ou pescador.

No caso da Praia da Angrinha, situada numa zona contígua e onde existem atualmente 29 barracas de apoio à pesca e atividades náuticas, prevê-se que sejam demolidas algumas estruturas mais próximas da base das arribas e que toda a área seja requalificada.

A Lusa tentou obter uma reação da Administração dos Portos de Sines e do Algarve, responsável pelas intervenções, mas tal não foi possível até ao momento.