Foto © Samuel Mendonça

O segundo dia da ação de formação que a Diocese do Algarve levou a cabo para a constituição de agentes da pastoral familiar nas paróquias algarvias reforçou ser fundamental que aquele sector passe a ser a “prioridade e eixo integrador da ação pastoral das comunidades”.

Na formação, promovida pelo Sector da Pastoral Familiar da Diocese do Algarve (SDPF), o seu assistente voltou a destacar o caráter “transversal” da pastoral da família. “Qual é a ligação dos agentes da pastoral da família com a juventude e com catequese? Com os escuteiros? Com os serviços da saúde? Esta divisão de compartimentos, que em princípio devia ser para concurso para uma pastoral unificada, está a fazer com que uns estejam por um lado e outros por outro, quando a família é o cerne de toda a pastoral”, lamentou o cónego Carlos César Chantre.

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O sacerdote considerou mesmo a família como o “último reduto para se salvaguardar o Cristianismo na Europa”. “É o reduto que ainda falta para desconjuntar todo o princípio do evangelho na Europa. E é precisamente a família que tem de começar a reagir à maioria reinante que é minoria, mas que neste momento está no poder”, afirmou, explicando referir-se não ao poder político, mas “comunicacional” e “económico”.

A formação, participada por 29 casais (58 pessoas) de todo o Algarve, desafiou à aplicação das máximas da Ação Católica – ver, julgar e agir – e identificou aqueles como os critérios de ação na pastoral da família, tendo em conta em cada paróquia a identificação da realidade (ver), a sua compreensão (julgar) e a definição de estratégias de trabalho a desenvolver (agir).

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O casal Nuno e Catarina Fortes, da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa, que orientou a formação, que teve lugar no passado dia 11 deste mês, nos anexos da igreja de São Pedro do Mar, em Quarteira, sublinhou a importância do “critério da solicitude pastoral” a ter em conta no trabalho de programação. “Temos de partir daquilo que é a realidade e depois fazer caminho com essa realidade”, sustentaram, alertando que, relativamente aos critérios da ação pastoral, as “tentações a evitar” passam por “descuidar o depósito da fé” ou a realidade atual. Um “endurecimento hostil” ou uma “bonacheirice destrutiva” foram igualmente apontadas como atitudes que não devem existir.

Em ordem aos desafios gerais, o casal advertiu para perigos a evitar como o de “pensar o «mal-estar» em termos de profundo antagonismo” entre a realidade da sociedade atual e o que é proposto pelo Cristianismo ou a de aceitação de um “Cristianismo light” que, sob a ilusão do facilitismo, não leve ninguém à exigência do compromisso. Por outro lado, advertiram ainda para os riscos de se pensar que há uma “única resposta verdadeira e certa” e que todas as outras “estão erradas e são perigosas” ou, em oposição, que todas as respostas “estão certas e são válidas”.

Relativamente aos desafios específicos sublinhou-se a “necessidade de dar a conhecer os documentos da Igreja”, investindo na formação para consecução de uma “opinião cristã adulta e madura”. Nuno Fortes acrescentou ainda a necessidade de se evitar a disparidade de critérios nas paróquias no trabalho nesta área e a importância de se assegurar o acolhimento a “todas as pessoas na sua situação concreta de vida”. “Não podemos confundir aquilo que é o acolhimento da pessoa com o tratamento específico e particular nas situações concretas de cada uma”, alertou, apelando ao “acompanhamento e corresponsabilidade” no decurso do itinerário cristão, bem como para a “preparação próxima para o sacramento do matrimónio e acompanhamento nos primeiros anos após o matrimónio”. “Praticamente não existem respostas das comunidades para os casais que acabam de se casar”, lamentou.

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O casal aludiu ainda à importância da linguagem, de se “promover e dignificar o amor humano e o matrimónio”, do “conhecimento e entendimento da reflexão cristã sobre as questões relativas à família” e de se “aprofundar e desenvolver a reflexão teológica acerca do matrimónio”.

O coordenador do SDPF, Carlos Ferrinho explicou que agora os casais pertencentes a cada uma das quatro vigararias (conjuntos de paróquias) da Diocese do Algarve irão reunir-se para elaborar um “esboço” de plano pastoral para a sua vigararia, planos esses que deverão ser depois assumidos no plano pastoral diocesano.

O cónego César Chantre manifestou a esperança naquele grupo, cujos membros explicou fazerem parte da “equipa alargada” da pastoral da família da Diocese do Algarve. “Este conjunto que está aqui mais aqueles que não puderam vir fazem parte do governo da pastoral diocesana para a família. Sonho que esta pastoral da família poderá revolucionar a Igreja no Algarve. O número que está aqui é mais do que suficiente para isso”, afirmou, acrescentando que “os agentes da pastoral familiar em cada paróquia é que têm de ser os protagonistas da história da sua paróquia e têm de gizar a sua pastoral”. “Esta formação é, exclusivamente, para nos ajudar à formação cultural e doutrinária para depois nas paróquias podermos organizar e constituir a pastoral local”, complementou.