“Sim, quero, por toda a vida!” foi a resposta, confirmada por quatro vezes no passado sábado, pela irmã Linda Vieira às perguntas do bispo do Algarve sobre a sua intenção de querer consagrar-se para sempre a Deus no Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora (salesianas).
A Igreja do Algarve participou assim, em festa, na celebração da profissão perpétua da religiosa algarvia, luso cabo-verdiana, presidida por D. Manuel Quintas na igreja paroquial de São José das Ferreiras, paróquia que viu crescer na fé aquela irmã salesiana.
A celebração contou também com a participação da superiora provincial das salesianas, a irmã Rosa Cândida, bem como de várias dezenas de outras irmãs daquele instituto, oriundas das várias comunidades do norte ao sul do país. Presente esteve também o provincial dos salesianos em Portugal, o padre José Aníbal Mendonça, acompanhado por um outro sacerdote e por um irmão da mesma congregação.
Na celebração, também concelebrada por alguns padres do Algarve e muito participada por religiosas da diocese, o bispo diocesano destacou aquele acontecimento como a confirmação de uma “aliança de amor”. “A irmã Linda deixou-se amar e é por isso que está aqui hoje a confirmar, diante de todos nós, esse amor de Deus por ela”, afirmou D. Manuel Quintas, lembrando que “é sempre Deus que tem a iniciativa”. “É Ele que chama com amor e que consagra com efusão abundante do Espírito [Santo], envolvendo-se e comprometendo-se no próprio envio que fortalece para que esta aliança tenha a sua marca, a marca da fidelidade e da paternidade”, sustentou.
O bispo do Algarve pediu então, por isso, à professante que os três votos a que se comprometeu – pobreza, castidade e obediência – se reduzam ao “voto do amor”. “Podes dar todos os teus bens aos pobres, controlar perfeitamente a tua castidade e celibato e ser muito obediente às tuas superioras e às constituições, mas se não tiveres amor de nada te serve, de nada te aproveita a ti e aos outros”, advertiu, pedindo-lhe que esse amor “não seja superficial, forçado, meramente cortez”. “Escancara o teu coração”, exortou.
“Recorda-te sempre que não foste tu que escolheste o amor, foi o amor que te escolheu a ti. E te escolheu primeiro”, prosseguiu, aconselhando a irmã Linda Vieira a reacender esse amor todos os dias através da “palavra proclamada” e dos “sacramentos celebrados”, particularmente a eucaristia e a reconciliação. “A profissão perpétua é igual a viver um amor sem data de caducidade”, reforçou, alertando para a importância da fidelidade. “Se fores fiel ao amor, o amor ser-te-á fiel a ti mesma. Crê no amor, mesmo que te sintas débil. Não procures a perfeição dos teus atos, mas utopia dos teus desejos. Que o teu amor seja mais forte do que a tua debilidade. Faz do amor a tua «arma» mais poderosa, especialmente para com a juventude que acompanhas e para com a tua comunidade religiosa e paroquial”, pediu.
O prelado frisou ainda a “fecundidade vocacional” da paróquia das Ferreiras, de onde, para além da irmã Linda Vieira, já nasceu a vocação do padre Vasco Figueirinha e do seminarista Getúlio Bica, presentes naquela celebração. “É, de facto, uma comunidade onde se «respira» a ação de Deus e onde o Espírito [Santo] encontra «terra» para poder «semear»”, afirmou, lembrando que “quando há uma comunidade que reza com fé, vive a generosidade e o sentido de doação aos outros e exprime isso de maneira entusiasta, contagia os mais novos”. “Gostaria que os jovens se deixassem hoje contagiar por tudo aquilo que Deus tem a celebrar com a irmã Linda. Quem se sentir chamado a seguir este caminho, não hesite porque Deus dá a cada um o que cada um precisa para ser feliz”, desafiou D. Manuel Quintas.
Proclamada a palavra das escrituras, o rito da profissão perpétua iniciou-se com o chamamento da candidata feito pela superiora provincial, tendo a irmã Linda Vieira sido interrogada pelo bispo diocesano sobre o seu propósito. Seguiu-se depois uma breve apresentação da caminhada vocacional da professante.
Depois da homilia, a celebração prosseguiu com o celebrante a perguntar à professante sobre a sua disposição de se consagrar a Deus e de viver em comunhão com as irmãs salesianas, segundo o espírito apostólico dos fundadores do seu instituto.
A profissão propriamente dita ocorreu após a intercessão dos santos, quando a professante pronunciou a fórmula diante da superiora provincial e a assinou sobre o altar. Após a assinatura, a oração de consagração foi rezada pelo bispo sobre a irmã Linda Vieira ajoelhada, tendo a irmã provincial aceitado depois a sua profissão perpétua como membro de pleno direito do Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. Particularmente significativo foi o momento do abraço da superiora provincial à irmã agora definitivamente consagrada, bem como o da oferta de um terço que representa o seu empenho na oração.
No final da celebração, a irmã Linda Vieira, de 34 anos, manifestou o seu agradecimento a Deus e pediu-lhe “santas e generosas vocações” para a Igreja. “Dou graças ao Pai do céu por tantos benefícios que me concedeu e que hoje atinge o ponto alto desta relação de amor que comigo tem vindo a construir desde há 34 anos”, afirmou, agradecendo o “dom da vida e da família”, os pais, o irmão, as comunidades paroquiais por onde passou, a Comunidade Emanuel, a vida académica, o compromisso em serviços diocesanos como os Convívios Fraternos, o carisma salesiano, as irmãs, sacerdotes e amigos.
A superiora provincial agradeceu aos pais da irmã Linda Vieira e à própria pelo seu testemunho e “pelo ‘sim’ ao Senhor”, agradecimentos que foram repetidos pelo cónego Carlos César Chantre, antigo pároco da consagrada, e pelo padre Pedro Manuel, atual pároco da paróquia das Ferreiras. A comunidade quis oferecer uma lembrança à religiosa que pediu que o dinheiro para aquele fim revertesse para as missões em países de maior necessidade levadas a cabo pelo seu instituto.
Antes de terminar a celebração, animada também por alguns cânticos cabo-verdianos, o bispo do Algarve considerou ainda “um dom” a presença das irmãs salesianas no Algarve.
Depois da eucaristia, a irmã Linda Vieira foi ainda presenteada com a atuação da tuna feminina da Universidade do Algarve, da qual chegou a ser magíster tunae.