A Assembleia Diocesana do passado sábado que serviu para apresentação do novo programa pastoral da Diocese do Algarve, que vai dar prioridade à família, juventude e vocações, evidenciou ser preciso trabalhar com os jovens.
O novo vigário episcopal para a pastoral da diocese algarvia considerou haver “muito trabalho a fazer porque, muitas vezes, os jovens são tratados apenas como destinatários e um objeto da pastoral juvenil, vocacional e familiar” quando afinal são “os sujeitos”. “A pastoral faz-se com eles, dando-lhes a iniciativa e o protagonismo”, sustentou o padre António de Freitas, lamentando que se promovam “catequeses para os jovens, mas raramente com os jovens”.
O sacerdote, que é também o novo diretor do Secretariado da Pastoral Vocacional da Diocese do Algarve, desafiou a “fazer dos jovens o sujeito da proposta vocacional, tendo como objetivo primeiro e último o encontro com Jesus”. “Sem isto nada faz sentido na Igreja”, evidenciou, lembrando que a importância da “descoberta de Deus”.
Neste sentido exortou também a “procurar gerar processos que coloquem as pessoas no centro”, em vez de se responder a “estruturas e esquemas, colocando estes no lugar da pessoa e de Deus”.
Também o assistente do Setor da Pastoral Juvenil da Diocese do Algarve lamentou que as atividades realizadas naquela área sejam “voltadas única e exclusivamente para os jovens que, apesar do seu fraco sentido de pertença à Igreja, já caminham nas comunidades cristãs”. “Nada temos feito para falar aos jovens que estão fora da Igreja”, constatou o padre Nelson Rodrigues, lembrando que “a percentagem de jovens que aderem à pessoa de Cristo está a diminuir”, embora constate a existência de “uma réstia de ressurgimento religioso” que “não só frequenta a eucaristia dominical, como se compromete com a Igreja em serviços concretos à comunidade”.
Neste sentido, aquele responsável destacou que os jovens “precisam de sentir-se Igreja, amar a Igreja, viver o Evangelho e abraçar o enorme mistério que é Deus”. O padre Nelson Rodrigues lembrou que a militância ativa dos jovens na Igreja resulta do “verdadeiro encontro com Jesus Cristo”. “O que está na base da conversão dos jovens é a apresentação clara, verdadeira e convicta do Jesus Cristo de que fala a Sagrada Escritura”, sustentou, recordando que “os jovens são os melhores agentes pastorais para formar os outros jovens” e que “para esta evangelização acontecer, aqueles que já estão nas comunidades, precisam de fazer um enorme caminho de conversão pastoral”. “O jovem será evangelizador de outros jovens se encontrar na comunidade paroquial um foco de contágio grande”, considerou.
“Os jovens precisam de um espaço que ultrapassa a nossa compreensão, onde possam voar à larga, rasgar horizontes, viverem a ousadia pastoral própria da sua idade e, claro, amadurecer tudo isso com as quedas e fracassos primeiros”, prosseguiu, advertindo que “a juventude é a idade própria das quedas e, por isso, se não vierem a cair na idade própria isto causará enormes danos à Igreja no futuro porque as quedas surgirão em momentos inapropriados”.
O padre Nelson Rodrigues propôs, por isso, que os jovens tenham assento nos conselhos pastorais diocesano e paroquiais e que se procure promover nas paróquias o “anúncio claro aos jovens que já frequentam a comunidade e aos que estão longe da Igreja presente nas suas terras”. O sacerdote incitou à “coragem de um anúncio claro”. “Devemos ajudar os jovens a ganhar confidência e familiaridade com a Sagrada Escritura, para que ela deixe de ser um livro aborrecido e se torne como que uma bússola que indica a estrada a seguir”, apontou.
O sacerdote disse que esta evangelização é dirigida a “uma porção do povo de Deus que se apresenta com vícios”, considerando que os jovens possuem uma “generosidade irmanada com instabilidade, precariedade e sem grande promessa de perseverança e constância” e que estão a ser educados “para fugir do sofrimento”. “Tudo isto tem implicações na Igreja de hoje: os jovens estão a ser preparados para fugir da proposta de Jesus que os chama a ser discípulos tomando a cruz, renunciando a si mesmos, e seguindo-O. Ou seja, quando a proposta evangélica passa a ser uma proposta que implique sair da zona de conforto e comprometer-se seriamente, e para sempre, deixa de ser atraente porque a sociedade a isso nos leva”, acrescentou.
O assistente do Setor Diocesano da Pastoral Juvenil (SDPJ) frisou assim a necessidade da formação de agentes “para que tenham as ferramentas necessárias para enfrentar os problemas próprios da juventude de hoje” e apelou à criação das equipas paroquiais e vicariais da pastoral juvenil onde ainda não existam.
O sacerdote anunciou que o SDPJ irá promover este ano um inquérito e uma assembleia para “perceber a realidade da juventude” e “para a Igreja ouvir os jovens”, não só os membros das comunidades paroquiais, mas “todos os jovens algarvios que queiram participar”. “Não podemos deixar os jovens irem dando os primeiros passos sempre com a supervisão dos que pensam ser versados em pastoral”, alertou, acrescentando que, “no contexto do Sínodo [dos Bispos de 2018 que será dedicado à realidade juvenil], esta auscultação é uma primeira resposta ao sentir dos jovens sobre o modo como vivem a sua fé e se sentem Igreja”.
O padre Nelson Rodrigues, que anunciou igualmente a realização de um conselho de pastoral juvenil em maio e apelou à preparação da participação na próxima Jornada Mundial da Juventude que terá lugar Panamá, desejou que a juventude “sempre esteja na vanguarda de qualquer plano pastoral”. “Temos que fazer caminho e isso implica ir formando mentalidades sobre a Igreja que queremos”, concluiu.
A Assembleia Diocesana reuniu cerca de 430 representantes das paróquias, dos serviços e movimentos da Diocese do Algarve no salão paroquial de São Pedro do Mar para apresentação do Programa Pastoral 2017/2020 da Igreja algarvia.