As Igrejas cristãs do Algarve voltaram a rezar pela unidade de todos os cristãos.
Associando-se à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos que anualmente é celebrada, no hemisfério norte, entre 18 e 25 de janeiro, católicos e greco-católicos, evangélicos, anglicanos e luteranos residentes no Algarve voltaram a reunir-se no sábado na igreja de São Francisco, em Faro.

A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que começou na quarta-feira, tem como tema “Aprendei a fazer o bem e procurai a justiça”, retirado do livro do profeta Isaías, alerta para as questões do racismo e da discriminação.
Os materiais da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos 2023 começaram a ser preparados por um grupo de trabalho, que articulou as leituras da Escritura, temas, músicas e celebrações, indicado pelo Conselho de Igrejas de Minnesota (EUA).

No Algarve, a iniciativa foi organizada pelo Secretariado para o Diálogo Ecuménico e Inter-religioso da diocese algarvia em parceria com as restantes Igrejas Cristãs e com a colaboração com o Movimento dos Focolares.

No sábado à tarde, a celebração teve início com a entronização dos símbolos da água – representando o “batismo para uma nova vida”, que foi despejada numa bacia – e da Palavra de Deus, cujo livro foi colocado num ambão. Na introdução penitencial reconheceram-se as falhas e pediu-se perdão: “precisamos da graça de Deus para superar nossas divisões e desmontar sistemas e estruturas que têm contribuído para dividir nossas comunidades”. “Estamos reunidos para orar pelo fortalecimento da unidade que temos como cristãos, para «abrir nossos corações, para que possamos ser ousados na busca das riquezas de inclusão e dos tesouros da diversidade entre nós»”, acrescentou-se, citando Martin Luther King.

O pastor Stephan Lorenz, que representou a Igreja Luterana alemã no Algarve, lembrou que ela é composta por alemães, incluindo bávaros, holandeses, austríacos e suíços. Aquele responsável destacou que “a comunhão com Deus é o mais importante” entre os cristãos. “Isso é o que une a todos nós porque temos confiança em Deus e somos membros do seu reino”, afirmou.

A intervenção do padre Oleg Trushko, que representou a Igreja Greco-Católica ucraniana, ficou marcada pela referência à guerra que acontece há 11 meses no seu país. “Em todo o mundo pessoas de diferentes religiões rezam pela Ucrânia e tentam apoiar-nos espiritualmente”, agradeceu, lembrando que apesar de existência do mandamento “não matarás”, “pessoas pacíficas, homens, mulheres e crianças estão morrendo” naquele país.

O cónego Rui Barros Guerreiro, que representou a Igreja Católica, lembrou que o “caminho” de procura de Deus “não se faz sozinho, desamparado ou sem referências”. “Temos Jesus Cristo como modelo e irmão e temos a Igreja, a comunidade, as Igrejas, as comunidades. Cada uma com a sua especificidade e a sua história. Com Jesus, a Igreja e a comunidade recuperamos a experiência original primeira do amor de Deus e porque, por vezes, não sabemos caminhar juntos, Jesus é a «pedra» que derruba os muros e as divisões. O caminharmos hoje juntos será sempre fruto do termos sabido calar as diferenças para deixar falar Jesus”, considerou naquela celebração ecuménica que contou ainda com a presença dos padres franciscanos, José dos Santos Ferreira, José Henriques e Bruno Peixoto, em representação da Igreja Católica.

O padre Brian Warrillow, representante da Igreja Anglicana, lembrou que a própria comunhão daquela Igreja, que “ainda se esforça para fazer parte da Igreja universal”, partiu da divisão, estando presente em Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda, bem como em “todo o mundo de língua inglesa”. “Aqui em Portugal temos culto em língua inglesa em vários locais para todos os que a falam. Respeitamos e procuramos trabalhar com outros cristãos, seja qual for o seu grupo ou comunidade”, acrescentou.
Nesse sentido considerou que “a diferença não é problema, nem mesmo a diversidade” e que aquela só é “prejudicial e destrutiva” quando se torna “divisão”. Aquele responsável sugeriu que as diferenças devem ser ignoradas. “Achamos impossível ignorar as nossas diferenças porque, para além de beneficiários, somos vítimas do passado. Aprendamos a conviver com as diferenças e a respeitar cada ponto de vista dos outros, formas de adoração e a maneira como nos vestimos”, pediu, acrescentando: “é o ensinamento de Jesus e são os Credos, universalmente reconhecidos, e a essencial comunhão universal do Corpo e do Sangue de Jesus que devemos proclamar”.

O pastor Rodrigo Sequeira, representante da Comunidade Nova Aliança, pertencente à Aliança Evangélica Portuguesa, apelou a um princípio comum a todos cristãos que resume a fé: “procurar o máximo de bem-estar para Deus e cuidarmos daqueles que estão à nossa volta como faríamos para nós próprios”. “Aquilo que Deus pede a cada cristão baseia-se nisto. E isso, automaticamente, passa por cima de todas as nossas divisões. É este evangelho que somos chamados a viver”, acrescentou.

A celebração contou ainda com um testemunho seu, através do qual explicou que não teve qualquer educação religiosa por ter crescido numa família “onde todos, orgulhosamente, eram ateus”. Porém, o encontro com uma publicação, numa gaveta destinada pelo seu avô para guardar “os livros inúteis que não prestavam para nada”, mudou a sua vida. “No meio dos livros inúteis que não prestavam para nada encontrei um livro que nunca tinha visto com o título ‘Os quatro Evangelhos’. Comecei a ler e não consegui parar de ler. Li o Evangelho de Mateus de uma ponta à outra”, relatou, explicando que a seguir comprou uma Bíblia, começou a lê-la e a frequentar a Igreja Evangélica. “Tornei-me cristão por um único fator: há um Deus que nos ama de uma forma imensa e que anda à nossa procura e deseja relacionar-se pessoalmente com cada um. Só temos de estar disponíveis para deixar que Ele nos encontre”, concluiu.

O outro testemunho da tarde foi o de Manuela Martins que, tendo vivido durante 26 anos numa comunidade na parte árabe de Jerusalém, se referiu ao conflito entre israelitas e palestinianos, pertencentes às três grandes religiões monoteístas – Judaísmo, Islão e Cristianismo – que têm aquela cidade como santa e querem vê-la como “a capital”. “A chamada regra de ouro que está presente em quase todas as religiões ajudava-nos muito: fazer aos outros o que gostaria que os outros me fizessem a mim. Era mesmo como uma chave mágica para construir a amizade e os relacionamentos com todos”, disse, acrescentando: “vivi em diferentes países e posso mesmo dizer que nunca como ali notei como a bondade e o amor é mesmo contagiante. As pessoas, independentemente se eram cristãs, muçulmanas ou judias, quando se sentiam estimadas e amadas respondiam da mesma forma”. “Muitas vezes, com a mudança de atitude e pequenos gestos de amizade, nasciam verdadeiras relações de fraternidade e decisões a dar passos de reconciliação e de paz”, prosseguiu.
Manuela Martins disse ser “muito importante criar ocasiões de diálogo e encontro para permitir um conhecimento recíproco, abater barreiras e preconceitos” e garantiu que a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, celebrada em Jerusalém, lhe ficou na memória como “uma das experiências mais lindas daqueles anos”.

No Algarve, a Igreja Católica há muitos anos que disponibiliza algumas das suas igrejas, não só à Igreja Greco-Católica, mas também à Igreja Anglicana e à Igreja Luterana.