Uma investigadora, um fotógrafo e um chefe de cozinha produziram um livro que pretende revisitar o património alimentar mediterrânico algarvio e as tradições ligadas à gastronomia local, que têm passado de geração em geração, no Algarve.
O livro “Algarve Mediterrânico – Tradição, Produtos e Cozinhas”, cujo lançamento oficial ocorre hoje em Lisboa, congrega o trabalho da investigadora em Sociologia da Alimentação e Ambiente Maria Manuel Valagão, que coordenou, pesquisou e escreveu o texto, do fotógrafo Vasco Célio e do chefe Bertílio Gomes.
Em declarações à agência Lusa, a investigadora contou que não se trata de um livro só sobre alimentação, mas sim sobre a história local, paisagens alimentares e as relações da comida com o território e com a cozinha, sublinhando que já pensava em realizar este projeto “há 20 anos”.
Uma das suas principais preocupações foi investigar o “maior património do saber, que é a oralidade”, desde Alcoutim, a Aljezur ou a Vila do Bispo, numa tentativa de “recuperar memórias e registar o testemunho das pessoas”, já que algum do património local “se está a perder”, sublinhou.
Durante vários anos, Maria Manuel Valagão recolheu memórias, dando especial atenção aos aspetos antropológicos e sociais dos produtos alimentares, processos de conservação e técnicas de preparação, estudando as suas relações com a história, a paisagem e a gastronomia algarvia.
Os autores do livro, todos com raízes no Algarve e que trabalharam voluntariamente no projeto durante quatro anos, produziram uma obra de mais de 300 páginas, que reúne textos acompanhados por fotografias de pessoas, comida e paisagens, mas também aproximadamente 40 receitas selecionadas.
Bertílio Gomes, que é chefe de cozinha no restaurante Chapitô, em Lisboa, inspirou-se em algumas receitas tradicionais com produtos algarvios e adaptou-as, no livro, à cozinha contemporânea, apresentando-as divididas pelas quatro estações do ano, com fichas técnicas, para facilitar a leitura.
Maria Manuel Valagão considera que o livro acaba por ser um regresso às origens, defendendo que as pessoas deveriam “voltar a ser simples” e regressar ao “jeito mediterrânico” de cozinhar, “que obtém grandes efeitos com poucos recursos”.
O livro está dividido em cinco partes: História, Paisagem e Tradição, Produtos Mediterrânicos Algarvios, Cozinha Saudável, Oralidades e Patrimónios, Petiscos, Convivialidade e Festas e Inovação da Prática Culinária.