
A irmã Maria da Glória Pinto, a mais antiga carmelita missionária portuguesa, está a celebrar 50 anos de consagração religiosa, 31 dos quais vividos em serviço no Algarve.
Em 1964, movida por uma “inquietude persistente” após um período de militância na Ação Católica, iniciou o noviciado (período de discernimento que antecede a consagração definitiva a Deus) na congregação das Carmelitas Missionárias. Um ano depois realizava a sua consagração religiosa a 15 de setembro de 1965, tendo sido enviada em 1966 para Moçambique, onde viveu a sua juventude.
Na então vila Trigo de Morais, atual Chókwè, cidade moçambicana da província de Gaza, foi auxiliar de educação num colégio de raparigas, tendo chegado a viver o tempo da guerra colonial. Em 1976 regressou a Portugal, tendo enveredado pelo trabalho na pastoral. O primeiro ano foi passado na comunidade de Viana do Castelo, mas em 1977, por influência do recém-empossado bispo do Algarve, D. Ernesto Costa, que já conhecia a congregação carmelita de Moçambique, rumou pela primeira vez ao Algarve, tendo sido uma das fundadoras da atual comunidade.
O seu primeiro período no Algarve, durante o qual se deu a sua imersão na missão da Igreja local, concluiu-se em 1990, tendo seguido para a vizinha diocese de Beja, onde se manteve até 1995, regressando nesse ano à diocese algarvia. Seguiram-se mais 13 anos no Algarve, até 2008, altura em que foi enviada para Valladolid (Espanha) para trabalhar numa casa de noviças da congregação, de onde regressou em 2010, mantendo-se até hoje na diocese algarvia.
Em declarações ao Folha do Domingo, a irmã Maria da Glória Pinto, natural de Marco de Canavezes, distrito do Porto, diz que celebrar meio século de consagração religiosa numa altura em que ocorre, simultaneamente, a celebração dos 50 anos de encerramento do Concílio Vaticano II, o Ano da Vida Consagrada, o quinto centenário do nascimento de Santa Teresa de Ávila e o Ano Santo da Misericórdia é uma ocorrência que a está marcar. “É uma riqueza que não sei como expressar”, testemunha, rejeitando ser uma coincidência. “É um sinal e uma graça de Deus e um convite a mais”, considera.

“A mensagem que o papa escreveu sobre o Ano da Vida Consagrada faz um convite a que agradeçamos o passado. Tenho motivos para agradecimento que não têm fim e, ao mesmo tempo que agradeço, sou convidada a viver com paixão o presente e a projetar o futuro com esperança. Sou convidada a viver o presente como nota predominante de agradecimento porque tudo o que tenho é dom. Estou consciente que estou a caminho e que o Senhor tem ido sempre à minha frente e tem-me deitado a mão em muitas alturas da minha vida. Sou convidada a viver e a dar o melhor do que tenho”, refere a religiosa.
Tendo vivido a sua consagração a Deus desde o tempo de encerramento do Concílio Vaticano II, a irmã Maria da Glória Pinto pertence à fornada de religiosas saídas do impulso daquele acontecimento marcante da vida da Igreja Católica. “Naquela altura não me apercebi do que tinha sido o concílio, mas foi uma graça ter vivido a consagração desde aí”, refere.
A aniversariante destaca que um dos momentos altos destes 50 anos da sua consagração foi vivido em Valladolid. “Foi um tomar consciência daquilo que eu tinha recebido para poder saborear as coisas de outra forma. Foi um corte com muitas coisas. Muitos anos num sítio, por vezes, torna-se empobrecedor porque agarramo-nos a muitas coisas. Ali apercebi-me de coisas a que estava agarrada e tomei novo rumo”, conta.
Em relação ao futuro diz sentir-se “chamada a viver o momento presente do que se vá apresentando”. “Estou aberta àquilo que o Senhor e a congregação quiserem de mim”, afirma.

Os 50 anos de consagração foram assinalados com a celebração de duas missas de ação de graças, a primeira no passado 15 de setembro, na comunidade algarvia das carmelitas missionárias, presidida pelo bispo do Algarve, D. Manuel Quintas, e a segunda, no dia 22 do mês passado, presidida pelo frei Joaquim Teixeira, provincial da Ordem dos Carmelitas Descalços, na paróquia de São Luís de Faro, à qual tem estado ligada durante a sua presença no Algarve. Neste momento, para além de catequista de um grupo do 6º ano de catequese, é também ministra extraordinária da comunhão, leitora e faz acompanhamento espiritual de idosos na zona da Penha.
No Algarve é ainda a presidente do Secretariado Regional da CIRP – Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal.