
A irmã Mariana Pereira, da comunidade algarvia do Instituto Missionário das Filhas de São Paulo (paulinas), está a celebrar 50 anos de consagração religiosa.
A religiosa, que faz parte da segunda fornada de consagradas daquela congregação, foi não só diretamente contagiada pelo “entusiasmo inicial” da primeira geração de irmãs, como teve oportunidade de conviver de perto com o fundador do instituto, o beato Tiago Alberione.
Natural da freguesia de Sanfins da Castanheira, concelho de Chaves, nasceu e foi criada numa família “muito religiosa”, no seio da qual reconhece, em entrevista ao Folha do Domingo, ter sido determinante o testemunho, o exemplo e o apoio da mãe para a sua educação. “Era uma mulher de muita fé que sempre nos ensinou e ajudou a ser pessoas de oração e também a pensar nos outros”, recorda.
Aos 17 anos, a religiosa participou numa missão popular levada a cabo no seu concelho por frades capuchinhos que a sensibilizaram para a necessidade, já na altura, de vocações missionárias. “Sei que aquilo me tocou profundamente, ficou no meu coração e perguntei-me se não poderia ser eu missionária para levar a Palavra de Deus”, conta.
Enquanto a inquietação permanecia, veio ter às suas mãos um folheto das Filhas de São Paulo. “Li e gostei muito. Pensei que era mesmo aquilo que eu gostava de ser”, lembra, explicando que, após um ano de troca de correspondência com a congregação, surgiu o convite para fazer uma experiência na casa do Porto, a única que, na altura, existia em Portugal. “Ser missionária, levar a Palavra de Deus e falar de Jesus Cristo é que me entusiasmou e me tocou profundamente”, sublinha, lembrando que no dia 4 de fevereiro de 1958 entrou no instituto e cerca de um ano depois seguiu para Itália para iniciar a formação de cinco anos.
Após a consagração no dia 30 de junho de 1965 regressou a Portugal. Ao longo destes 50 anos colaborou no governo da congregação e passou por Lisboa, onde trabalhou durante cerca de 30 anos, pelo Brasil, onde esteve três anos, e pelo Porto, onde trabalhou de 2000 a 2014. Apesar de, devido à Revolução de Abril de 1974, não ter conseguido ir em missão para Moçambique quando já se preparava para embarcar, a irmã Mariana Pereira garante ter realizado o desejo de ser missionária mesmo em território nacional. “Realizei, num certo sentido, o desejo de ser missionária quando fiz animação bíblica. Nessas experiências senti esse desejo profundo realizado. Não foi em África, mas foi aqui. Foi uma experiência riquíssima e foram oito anos em que percorri quase todas as paróquias de Portalegre-Castelo Branco”, conta, acrescentando ter recebido “muito mais” do que deu. “Convivi com gente de uma fé profunda e ver como Deus trabalha no interior das pessoas foi qualquer coisa de maravilhoso”, sustenta, lembrando que dessas experiências resultaram muitos grupos bíblicos que ainda hoje fundamentam a sua ação na Lectio Divina, a leitura orante da Palavra de Deus.
E a primeira iniciativa de animação bíblica, uma experiência “muito rica”, realizou-a no Algarve, entre 1965 e 1970, na zona do Patacão (concelho de Faro), quando vinha de Lisboa e ficava alojada várias semanas em casa de habitantes locais para as visitas às famílias.
Profundamente marcante neste meio século de consagração a Deus diz terem sido os primeiros anos vividos ainda em Itália em contacto direto com as primeiras irmãs e com o padre fundador. “Todas as semanas, durante o noviciado, íamos fazer a meditação com ele. Foi uma graça muito grande. Tenho de agradecer ao Senhor ter vivido nesse período inicial”, destaca.
Igualmente importante considera ter sido o trabalho realizado nas escolas. “Aprendo muito com as crianças porque elas são mesmo o espelho de Deus”, testemunha, acrescentando que também os encontros internacionais da congregação foram pontos igualmente “altos e fortes”, como o de exercícios espirituais paulinos que realizou em 2012 durante um mês em silêncio absoluto. “Foi um dom que o Senhor me concedeu, uma experiência muito rica e muito bela”, considera.
A religiosa, que veio o ano passado integrar a comunidade paulina algarvia, assegura, por isso, que o balanço é “positivo, muito positivo” e considera que celebrar 50 anos de consagração numa altura em que ocorre o Ano da Vida Consagrada, o Ano Santo da Misericórdia, os 50 anos de encerramento do Concilio Vaticano II e o centenário do seu instituto é um “dom de Deus”.
O jubileu de ouro foi assinalado na celebração desse centenário em Fátima, em missa presidida por D. José Traquina, bispo auxiliar de Lisboa, na capelinha das aparições, no passado dia 3 deste mês.
Em Faro, a irmã Mariana Pereira colabora agora na livraria do instituto, uma missão que nunca tinha tido, e no serviço pastoral que aquelas religiosas desenvolvem ao nível da divulgação da mensagem evangélica através da comunicação escrita e musicada, seja através da literatura, seja através de meios audiovisuais ou informáticos.
Relativamente ao futuro diz estar “nas mãos de Deus”. “O desejo é o de continuar a viver esta beleza. Se Jesus Cristo me atraiu no início, sinto a necessidade de O anunciar, de estar mais tempo com Ele, dedicando mais tempo à oração de contemplação”, afirma.