O cónego Carlos de Aquino, embora ressalvando que “a vida espiritual não se reduz unicamente à participação na sagrada liturgia”, advertiu na Jornada de Pastoral Litúrgica que a Diocese do Algarve promoveu no sábado no Centro Pastoral de Pêra que “não há vida cristã sem vida espiritual e esta não pode existir nem subsistir sem a liturgia”.
O sacerdote da diocese algarvia, que é o diretor do Departamento Diocesano da Pastoral Litúrgica, através do qual a iniciativa foi promovida, foi também um dos formadores do encontro com o tema “Os ministérios numa Igreja sinodal” e que contou com cerca de 90 participantes.
O formador, que se referiu ao tema da “Espiritualidade litúrgica dos serviços e ministérios”, deixou claro que “a espiritualidade litúrgica é a realização do mistério de Cristo na liturgia, sabendo que ela é o cume para o qual se dirige toda atividade da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte de onde provém toda a força”. “Se não celebramos Cristo e este encontro, somos mais deficientes na unidade e na comunhão”, advertiu.
O biblista disse ainda que a liturgia é “verdadeira espiritualidade cristã porque expressão da fé em Jesus e, acreditada, celebrada, vivida, testemunhada pelos sacramentos na oração, na escuta da palavra, na experiência do próprio ministério onde se anuncia e se antecipa a visão da glória”. “Não se pode reduzir simplesmente a uma interioridade, nem a vaga religiosidade ou simplesmente a uma vida honesta e moral. Exige que nos unamos a Cristo, que deixemos que Ele viva em nós como os sarmentos à videira”, complementou.

O cónego Carlos de Aquino acrescentou que uma “espiritualidade autenticamente litúrgica” deve levar a “mergulhar no mistério de Cristo” que “é sempre o centro das celebrações”. “A espiritualidade que se vive na liturgia depende também em grande medida de como vivemos a liturgia”, alertou, questionando: “vivemos da liturgia que celebramos? Levamos a nossa vida ao culto e levamos alguma coisa do culto, da oração para a vida? Vivemos do que celebramos?”.
O sacerdote disse que se pode considerar a espiritualidade litúrgica como o “exercício perfeito” com o objetivo de “fazer crescer na santidade” e garantiu que “a primeira finalidade da espiritualidade litúrgica consiste em cumprir, de modo devido, a ação sagrada, tomando parte dela, de modo consciente, ativo e frutuoso”.
Enumerando as “características essenciais” como “dinamismos importantíssimos” para aquela finalidade, disse que a primeira é “ser bíblica, religiosa e profética”. O cónego Carlos de Aquino disse ainda que a espiritualidade litúrgica é “tributária, cristológica e pneumatológica”, “pascal” e “eclesial/sacramental”, “mistagógica”, “missionária” e “mariana”.
O sacerdote deixou ainda claro que “todo o serviço ministerial não deve fazer outra coisa que orientar e conduzir para o Senhor”. “Por isso, viver para a liturgia e viver da liturgia é fundamental. Só a união pessoal, comunitária e profunda a Cristo assegurará a fecundidade do apostolado e até dos serviços ministeriais”, alertou.
A edição deste ano da Jornada de Pastoral Litúrgica da Diocese do Algarve contou ainda com as intervenções do cónego Mário de Sousa sobre o tema “Eu estou no meio de vós como quem serve” e do padre António de Freitas sobre “os ministérios laicais para uma Igreja ministerial”, ambos sacerdotes da diocese algarvia. De tarde houve ainda duas formações, uma para leitores, cantores e acólitos orientada pelo cónego Carlos de Aquino e outra para catequistas orientada pelo padre Pedro Manuel, também presbítero da Igreja do Algarve.