
O padre António de Freitas considerou, na Jornada de Pastoral Litúrgica que a Diocese do Algarve realizou no seu Centro Social e Pastoral, em Ferragudo, que as festas da catequese “podem ser um bom meio” e “uma oportunidade” para envolver as famílias dos catequizandos e levá-las a “saborear o encontro com Cristo, com a fé e com a comunidade cristã”.
Na conferência sobre o tema “As festas da Catequese e a Família”, em que deixou claro que a festa não pode ser “um fim” ou “uma meta” na catequese, o sacerdote considerou a festa “uma verdadeira e bela oportunidade de estabelecer diálogo com as famílias, de fazer relação com elas e de lhes propor o encontro com Jesus Cristo”. “A nossa missão como Igreja é esta mesma”, evidenciou, explicando tratar-se, sobretudo, de “proporcionar a festa do encontro com Deus”.

Na jornada, subordinada ao tema “Liturgia e Família: Celebração e vida”, promovida pelo Departamento Diocesano da Pastoral Litúrgica e participada por cerca de 170 pessoas de todo o Algarve, o conferencista considerou os filhos como “precioso instrumento que Deus coloca nas mãos da Igreja” para que se possa “chegar a tantos pais e a tantas famílias, propor-lhes o evangelho e convidá-los com alegria e acolhimento a integrar a grande família que é a comunidade cristã”. “Talvez seja uma perspetiva a refletir mais decidida e profundamente, pois bem sabemos que, se outrora eram os pais que vinham trazer as crianças à comunidade, hoje dá-se o contrário”, constatou.
O formador apelou também ao fim da pastoral “para as multidões e para as massas”. “Ainda que deva haver sempre o desejo de chegar a todos, devemos alegrar-nos e empenhar-nos com aqueles que aderem, mesmo que sejam poucos”, afirmou.
O orador considerou mesmo que o atual contexto deve ser “aproveitado e interpretado como um elemento de purificação e de conversão de um agir da Igreja, transmissora da fé”. “Antes bastava-nos ficar à espera porque vinham até nós. Agora, por meio das mudanças e sinais dos tempos, Deus oferece-nos a oportunidade de regressar àquela missão mais original da Igreja que consiste em não esperar, mas em partir e ir ao encontro”, acrescentou, desafiando a “um repensar que se traduza em ações concretas” no modo como a Igreja se relaciona, dialoga e vai ao encontro das famílias dos seus catequizandos.
Observando que a “vida mais ocupada e exigente” dos catequistas de hoje, não obstante a sua “generosidade” que considerou ser “muita”, reconheceu a dificuldade para “um maior tempo para a relação e interação com as famílias dos catequizandos, cingindo-se esta, muitas vezes, à preparação logística e normativa das festas da catequese”. “Não seria de repensar o empenho dos nossos catequistas, confiando-lhes apenas esta missão da catequese e quem é catequista ficar liberto dos outros serviços na comunidade? E porque não tentar gerar um trabalho de equipa entre catequistas e agentes de pastoral familiar?”, propôs.

Neste sentido, defendeu que nos encontros, que “devem ir para além das questões das normas e da logística”, haja espiritualidade e oração, envolvendo os responsáveis pela pastoral familiar e pela liturgia. “Quantas vezes – porque começamos ou nos cingimos sempre às questões logísticas e normativas – a relação com as famílias se torna tensa e difícil porque não houve nada antes disto”, lamentou. Neste sentido sugeriu que os encontros com as famílias sejam, primeiro que tudo, “lugar de partilha, de conhecimento e de escuta”. “Há que conhecer as famílias, há que lhes dar espaço para expressarem o que pensam e o que esperam da catequese, espaço para pensar em expectativas sobre os filhos e as dificuldades que passam com os mesmos no seio da família”, sustentou.
O padre António de Freitas defendeu que as festas podem ser uma oportunidade, “sobretudo se interpretadas no antes e no depois para além da celebração da festa em si mesma”. Analisando o “antes da festa”, o “durante a festa” e o “depois da festa”, considerou mesmo a primeira fase como “o ponto fundamental”. “É a preparação que determina o êxito do acontecimento. É aqui o ponto fundamental desta relação entre as festas da catequese e as famílias. É o modo como fazemos o caminho para as festas, como as preparamos e como envolvemos todos nesta preparação”, sustentou.
O conferencista deixou alguns desafios como a realização de encontros espirituais que possam “colocar a família em contacto com a realidade que será celebrada e proporcionar momentos em que possam saborear e compreender o que os filhos celebrarão”. Desafiou também à oração familiar em casa para ajudar à preparação imediata da festa e à oração de famílias e catequizandos em comunidade.
O padre António de Freitas propôs ainda a valorização do sacramento da reconciliação como “o reencontro”, lembrando que a preparação dos catequizandos para as festas – que em muitas paróquias são precedidas por celebrações penitenciais orientadas para a catequese – “torna-se numa verdadeira oportunidade” de envolvimento também das suas famílias. O orador sugeriu ainda um “dia de retiro para as crianças e pais prepararem a festa”, centrado na dimensão espiritual.
O formador apelou também ao acolhimento das famílias na festa, que disse não ter de se realizar necessariamente na eucaristia paroquial, e à sua participação na liturgia. “Se dizemos que queremos chegar às famílias, o cuidado do acolhimento é um daqueles que não podemos desprezar para que as famílias não se sintam eternos visitantes das igrejas e das comunidades, mas possam compreender que têm um lugar específico entre nós”, advertiu, acrescentando a importância de aproveitar o período pós-festa para o “encontro, partilha, convívio e conhecimento entre famílias e os agentes de transmissão da fé” e para um encontro com pais e filhos para avaliação e partilha testemunhal da “vivência da festa”.
Vídeo da conferência