Foto © Samuel Mendonça/Folha do Domingo

O padre Carlos de Aquino deixou claro no passado sábado, na Jornada de Pastoral Litúrgica que a Diocese do Algarve realizou no seu Centro Social e Pastoral, em Ferragudo, que “a liturgia tem como objetivo primeiro e finalidade a santificação dos homens e glorificação de Deus”.

“É para isso que a gente celebra a liturgia, para sermos santos”, realçou o sacerdote na conferência sobre o tema “Liturgia: Celebração e Vida” (vídeo disponível abaixo), considerando que aquele objetivo “é que deve ser o critério da participação e da criatividade” para evitar a “criatividade estéril” que criticou, a par da “improvisação” que disse ser “o cancro desta verdade da vida oferecida ao Senhor”.

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Destacando a liturgia como “a função santificadora da Igreja para continuar no tempo a obra de Jesus”, o padre Carlos de Aquino – que para além de um dos conferencistas da formação sobre o tema “Liturgia e Família: Celebração e vida” é também o coordenador do Departamento Diocesano da Pastoral Litúrgica que promoveu a iniciativa participada por cerca de 170 pessoas de todo o Algarve –, sustentou que a liturgia é, por isso, “ação de Cristo e da Igreja por associação e na comunhão a Ele”.

“É uma ação sagrada pela qual, através de ritos sensíveis e significativos, se exerce, no Espírito Santo, o múnus sacerdotal de Cristo na Igreja e pela Igreja para a santificação do homem e glorificação de Deus até que o Senhor venha”, sustentou, considerando que “com razão se considera a liturgia exercício da função sacerdotal de Cristo, pois nela os sinais sensíveis significam e realizam a santificação dos homens”. “Sinto-me santificado na missa?”, questionou.

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Neste sentido, o padre Carlos de Aquino destacou a importância da “unidade profunda de vida” entre aquilo que se é e aquilo que se faz. “A liturgia é sempre um momento de encontro com a vida para que tenhamos a vida”, observou.

O orador frisou que “a liturgia também é para fomentar a vida cristã entre os fiéis”, a par da catequese, da evangelização, da formação da fé. “Também na liturgia educamos a vida cristã, crescemos na vida cristã, alimentamos a vida cristã”, reforçou, advertindo que “não há vida cristã sem liturgia” e que esta “não pode ser considerada como algo secundário, dispensável ou até pouco significativo e fecundo” na vida dos cristãos e da própria Igreja. “A liturgia não esgota tudo na Igreja, mas tudo converge para ela”, afirmou.

Lamentando que a liturgia seja compreendida “mais como culto público oficial da Igreja do que como mistério”, observou que “a liturgia é a grande escola permanente da fé e da vida espiritual porque nela a Igreja celebra sempre o mesmo e o único mistério de Cristo”. “Na liturgia, como em toda a vida cristã, o mistério pascal ocupa o lugar essencial”, complementou, evidenciando que “educar à participação em ordem a uma experiência viva no mistério de Cristo e da Igreja é um enorme desafio” e apelando à “arte de tornar os ritos e as orações profundamente comunicativos e expressão de vida oferecida e recebida”.

O padre Carlos de Aquino apresentou assim a liturgia como “um acontecimento, uma experiência que tem a ver com a vida e com a salvação”. “Que bom seria que, quando nos tornamos participantes da liturgia, sentíssemos isso, que reencontramos ali o sentido da vida, a nossa própria liberdade e a felicidade”, desejou, lamentando: “celebramos ritualmente as coisas, dizemos palavras, gestos, mas que não são expressão de uma vida oferecida e, muitas vezes, não transformam a nossa vida”.

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O liturgista acrescentou que “a liturgia é, pois, com a oração, a celebração de Cristo e dos mistérios de Cristo no tempo” e lembrou, por isso, que “a liturgia é também uma forma especial de oração nas expressões fecundas de adoração e de louvor, da súplica, de agradecimento da comunidade convocada e reunida para celebrar os mistérios de Cristo, palavra eterna de Deus”. “Só celebramos e vivemos bem a liturgia se permanecermos em atitude orante”, advertiu, referindo-se à “disposição fundamental” para celebrar a liturgia.

O orador, que se referiu à reforma litúrgica do Concílio Vaticano II, lembrou que o “grande objetivo” desta “não é tanto uma mudança de ritos, de textos, mas sim um suscitar a formação dos fiéis para que vivam este momento de encontro com o Senhor e o acolham como fonte e vértice da sua vida cristã”.

Nesse sentido exortou a uma “participação consciente, ativa, plena”, explicando que o seu fundamento é sempre interior e não exterior, “é sempre conhecer o mistério, criar disponibilidade para se abrir à ação do Espírito”, e defendeu a implementação de uma “mistagogia litúrgica” que possa “conduzir as pessoas ao mistério a partir daquilo que celebram”, levá-las a “conhecer bem os gestos, a ritualidade” e a “acolher isso a partir da própria tradição cristã, da palavra de Deus, da Sagrada Escritura”.