
Realizou-se na passada sexta-feira, 22 de novembro, a primeira 1ª Jornada de Espiritualidade do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) que refletiu sobre a importância daquela dimensão nos cuidados de saúde.
Promovida pela Equipa de Apoio Psicossocial (EAPS) do CHUA, a iniciativa teve como tema “A espiritualidade em contextos de saúde” e contou com mais de uma centena de participantes, decorreu no auditório da unidade hospitalar de Faro no âmbito do Programa Humaniza da Fundação “la Caixa”.
Após a sessão de abertura, participada pela coordenadora do Programa de Apoio Integral a Pessoas com Doenças Avançadas em Portugal daquela fundação, Iciar Ancizu, pela vogal do conselho de administração do CHUA, Helena Leitão, pela representante da Coordenação Regional dos Cuidados Paliativos, Conceição Gago, e pelo coordenador de Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa do CHUA, diácono Rogério Egídio, realizou-se a conferência da primeira convidada.

A médica Ana Cláudia Quintana Arantes, uma das pioneiras em cuidados paliativos no Brasil e autora do best-seller “A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver”, veio defender a valorização da espiritualidade na assistência médica.

A jornada prosseguiu com uma mesa de outros oradores subordinada ao tema “Integrar a dimensão da Espiritualidade nos cuidados de saúde”. O coordenador de Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa do CHUA explicou que “a Lei de Liberdade Religiosa estabelece que o internamento em hospitais ou estabelecimentos de saúde não impede o exercício da liberdade religiosa, nomeadamente o direito à assistência religiosa e à prática de atos de culto”, para os membros de qualquer religião.

O diácono Rogério Egídio salientou que o enquadramento legislativo reconhece também que aquele serviço “contribui para a qualidade dos cuidados prestados” na saúde e disse que o mesmo no hospital de Faro é também assegurado aos “profissionais e doentes de confissão evangélica”, sempre a pedido destes ou de um familiar na impossibilidade de ser o próprio doente a requerê-lo. Aquele orador que perguntar ao doente na triagem para o internamento se precisa de assistência espiritual é “precisamente para salvaguardar” a sua liberdade religiosa.

A disposição da cama para uma parturiente muçulmana ou as especificidades da alimentação vegetariana para um paciente sikh foram alguns dos exemplos que deu a propósito da contribuição da assistência espiritual no meio hospitalar, considerando o acompanhamento espiritual e religioso “indispensável à cura e ao cuidar do doente”.

A enfermeira Helga Martins, do serviço de neurologia na unidade de Faro do CHUA, fundamentou toda a sua intervenção em diversos estudos científicos para garantir haver “uma correlação positiva” entre o bem-estar espiritual e o menor risco de depressão. “As pessoas com maiores níveis de bem-estar espiritual têm menores níveis de ansiedade e depressão”, assegurou.

Aquela doutoranda em enfermagem no Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa, com investigação na área da espiritualidade de pessoas com cancro”, disse que “está comprovado que a oração tem um papel fundamental na diminuição da angústia espiritual” e referiu “também uma associação entre o bem-estar espiritual e a qualidade de vida”. “A espiritualidade também tem um papel muito importante a nível da tolerância e no controlo da dor”, acrescentou, explicando que “a espiritualidade também é utilizada como uma estratégia de ajuste à doença” e que “também foi achada relação entre o bem-estar espiritual e a saúde mental”. “As pessoas que têm menores níveis de bem-estar espiritual também têm menores níveis de felicidade e maiores níveis de stresse”, sustentou.

A enfermeira Cristina Francisco, da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos do Agrupamento de Centros de Saúde do Barlavento, disse ser preciso “desmistificar esta ideia de que os cuidados e necessidades espirituais são confinadas aquele grupo de profissionais que lidam com sofrimento extremo da pessoa com a aproximação da morte”. “Sendo a espiritualidade uma dimensão humana, então ela diz respeito a todos os profissionais de saúde”, sustentou, acrescentando ser “importantíssimo que as equipas trabalhem este cuidado espiritual dos elementos que a compõem”.

A oradora alertou para as competências daqueles profissionais. “Eu só posso estar aberto ao outro se estiver disponível para respeitar quem o outro é: as crenças que ele tem, a sua experiência de vida, o que ele entende como o sentido de vida”, advertiu, explicando ser preciso “estar presente através de uma compaixão focada”. “Tem de haver ligação, relação. Só posso acolher o outro e recebê-lo se ele me conhecer. Aceitar o outro, passa em primeira instância por me aceitar a mim, como sou”, complementou.

“Qual a influência da minha espiritualidade nos cuidados que presto? Faz diferença a minha crença religiosa? Não é para termos respostas. É para nos levar a interpretações e a buscarmos o sentido daquilo que fazemos”, prosseguiu, considerando possível, “sem ser conflituosa”, “a coexistência da espiritualidade do profissional, do doente e da família”.
A iniciativa, que contou com o patrocínio científico da Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, continuou na parte da tarde com o workshop “Terapia da dignidade”, que teve como palestrante o médico paliativista e investigador da Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos de Sintra, Miguel Julião, e como moderadores a enfermeira Margarida Carrancha e o médico Giovanni Cerullo.