Foi inaugurado e benzido no passado dia 1 deste mês, em Martim Longo, o Lar de Nossa Senhora da Conceição que vai ser gerido pelo Centro Paroquial.
Construído pela Câmara de Alcoutim, o equipamento social foi cedido por um período de 20 anos, através da assinatura de um contrato de comodato em outubro do ano passado, para que a instituição da Igreja ali desenvolva a valência de lar de idosos, para além das de centro de dia e apoio domiciliário que já assegura há quase 30 anos.
Situada junta à Escola Professor Joaquim Moreira, a obra iniciou-se em agosto de 2013 com a consignação da empreitada, bênção e lançamento da primeira pedra e conclui-se no dia 13 de junho do ano passado, tendo custado mais de 1 milhão e 250 mil euros, sendo que a construção totalizou 990 mil euros, os arranjos exteriores 160 mil e o equipamento 115 mil.
No dia da inauguração presidida pelo ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Vieira da Silva considerou aquela uma obra “original” por resultar da vontade de três entidades que trabalharam em parceria: a Câmara Municipal, o Centro Paroquial e a Segurança Social. À comunicação social, o governante destacou a “situação exemplar de cooperação entre todas as partes para que os idosos possam ter o bem-estar e o futuro que merecem”, sublinhando que sem o apoio da Segurança Social “a garantia de acesso por parte dos beneficiários, especialmente os mais carenciados, não seria possível ser concretizada”.
Também o presidente da Câmara de Alcoutim destacou à comunicação social o “papel fundamental” da Segurança Social com a viabilização do acordo de cooperação que cobre 80% do total de vagas do novo lar, ou seja, de 29 das 37 existentes. Segundo Osvaldo Gonçalves esse apoio permite o acesso à instituição de “pessoas de parcos recursos financeiros e reformas baixíssimas” que poderão usufruir de cuidados primários de saúde, incluindo atendimentos na área da fisioterapia e da enfermagem.
Tal como o autarca, também o ministro destacou ainda que o novo equipamento contribui para a criação de “emprego local, de proximidade e sustentável” que ajuda a “viabilizar uma comunidade” com 22 novos postos de trabalho, não correndo o risco de se deslocalizar.
No discurso da inauguração, Osvaldo Gonçalves lembrou que aquela obra, “há muito desejada pela população”, representou a execução de um compromisso assumido no programa eleitoral com que se apresentou a sufrágio em 2013, manifestando o “sentimento do dever cumprido e de estar ao serviço da população” que o elegeu. O autarca destacou que “a impossibilidade de acesso a programas de financiamentos específicos não impediu a sua construção, apelando para isso a um esforço financeiro onde a autarquia foi a única participante”.
Referindo-se ao Centro Paroquial de Martim Longo, o presidente da Câmara assegurou que a instituição apresenta a garantia “de que a sua vocação e o espírito de missão até aqui demonstrado serão também refletidos na sua gestão e no exigente trabalho a desenvolver em prol do sucesso deste novo desafio”. “Desejo e espero que essa capacidade já demonstrada seja também ela capaz de desmaterializar burocracias, contornar dificuldades e produzir oportunidades com o único objetivo de servir as pessoas. E para servir as pessoas é cada vez mais importante ser capaz de dialogar com os nossos parceiros, desenvolver sinergias e trabalhar em equipa, construindo redes colaborativas. Tal como até aqui quero, deste modo, reiterar a minha disponibilidade total e permanente para continuar um diálogo aberto e franco que viabilize um contributo para o sucesso deste projeto”, complementou, considerando que o mesmo representa um “incentivo à fixação de pessoas no concelho” que, “complementarmente, ajuda a combater o despovoamento”.
O bispo do Algarve, que procedeu à bênção do edifício, após o descerramento da placa pelo ministro e pelo presidente da Câmara, disse apoiar plenamente o protocolo celebrado entre a Câmara e o Centro Paroquial. “Estou certo que esta obra, que é de todos, continuará a ser profundamente acarinhada e apoiada por esta população de Martim Longo porque a sente como sua”, afirmou D. Manuel Quintas, lembrando os antigos párocos e as irmãs Franciscanas Missionárias de Maria que trabalharam no Centro Paroquial.
O presidente do Centro Paroquial de Martim Longo agradeceu a confiança dada à instituição, lembrando que a mesma “contribui para a promoção integral dos membros da comunidade, cooperando com os serviços públicos competentes num espírito de solidariedade humana, cristã e social”.
“Pelo facto de se envolver em ações em que o Estado pode e deve por justiça colaborar, o Centro Paroquial é responsável perante a Igreja e perante o Estado” afirmou o diácono Albino Martins, evidenciando que “ao Estado pode e deve interessar a exigência e o rigor da observância das normas que regem estes equipamentos”, mas que a posição do Centro Paroquial deve ser outra. “A nós interessa-nos corresponder, mas também qualificar e iluminar o nosso serviço e a gestão desta casa com carinho e amor de modo que o outro não sofra ou sofra menos. Por isso, não nos permitiremos que a organização mate o serviço, mate o espírito, que a estrutura reduza as pessoas a números, que o funcionalismo desumanize os serviços, que a falta de confiança, profissional, humana e cristã de colaboradores e funcionários o desclassifique da qualidade dos serviços que presta e na missão que possui”, esclareceu.
Neste sentido deixou claro que “o Centro Paroquial de Martim Longo criou uma forte coluna apoiada nos seus órgãos sociais e nos seus colaboradores”. “É preciso guardar dentro de nós a semente da capacidade de interrogar, analisar, debater e agarrar soluções que a todos beneficie”, advertiu.
Citando o slogan da gerontologia social, o diácono Albino Martins considerou que “já que se alongam anos à vida, há que dar vida aos anos”. “Para que tal aconteça é necessário criar uma mentalidade nova, uma postura diferente”, apelou, lembrando que “os idosos têm o direito de ser felizes no entardecer na vida, pois foram ao longo dela servidores da comunidade”. “Continuem os idosos, na medida do possível, a viver no seio das suas famílias, no calor das suas casas, ricas ou pobres que sejam, mas aquecidos pelo calor dos seus filhos. Se por necessidade forem acolhidos neste lar, não seja esta instituição simples dormitório, mas sim resposta social onde funcione uma verdadeira terapia ocupacional. Os familiares que recorram a este equipamento visitem os seus idosos com frequência e nunca apressados”, pediu.
Aos jornalistas, o presidente do Centro Paroquial de Martim Longo reconheceu a dificuldade na sustentabilidade da nova valência. “Estes equipamentos com 30, 35 camas – este tem 37 – são sempre muito difíceis de gerir financeiramente. É uma situação que nos foi entregue desta forma e nós agora vamos lutar com toda capacidade que nos vem de uma experiência acumulada no sentido de conseguirmos que ele tenha viabilidade, mas vai ser muito difícil”, confirmou, defendendo que aquelas valências nunca devem ter capacidade inferior a 45 camas.
Com a capacidade de 37 utentes já esgotada, o Lar de Martim Longo tem já uma lista de espera de mais 30 pessoas.