A propósito do que aí vem, de escolhas sérias de coisas públicas que todos teremos de fazer, a propósito de pessoas e líderes que se vêm e ouvem nos media, cá dentro e lá fora, por todo o mundo, a propósito do estado das coisas que todos também conhecemos, não consigo deixar de pensar em lideranças e também no efeito que tem em nós, a impressão que temos dos outros. Desses tais, que deviam liderar.

São duas coisas distintas em si próprias, eu sei, a pessoa em si e o efeito que essa pessoa tem em nós, mas penso que poderão ter aqui alguns pontos de convergência e não serem duas coisas assim tão alheadas uma da outra.

Um líder seguro, tranquilo e dinâmico deve incutir nos outros, confiança, segurança e firmeza naquilo que defende. A firmeza naquilo que defende, não quererá dizer, em muitas situações, varinhas mágicas que resolvem em três tempos, todos os problemas. Não quererá dizer também inflamação violenta de discursos, para mostrar que sim, somos sanguinários e aguerridos e movemos céus e terra para que os nossos objetivos se alcancem. A ferro e fogo. Não quererá dizer ainda, que se vai sempre agradar a todos. Um líder verdadeiro terá consciência de tudo isto, delegará funções na sua equipa, confiará, mas também supervisionará e estará por dentro, na retaguarda, numa responsabilização ativa e pessoal e, sobretudo, terá uma qualquer-coisa que faz acreditar nele. Chamarei a esta qualquer-coisa, substrato, sumo, essência, identidade. E isso lhe dará o ponto chave da relação com os outros. E aqui está a linha convergente.

Um bom líder tem que incutir esta sensação, tem que fazer apetecer e gostar de falar com ele, de discutir ideias, de partilhar opiniões, de acertar consensos. Julgo até que esta é a parte mais difícil. Mas insisto: tem que haver um ponto de cor, uma nuance própria que o distingue, um fator X qualquer que lhe dá sabor. E sim, enquanto escrevo isto, penso nas minhas obrigações profissionais, que me fazem liderar uma equipa, mas olho também à minha volta para o panorama público que todos conhecemos e desafortunadamente, vejo poucos pontos de cor, vejo uma mancha indefinida de tudo-igual, vejo palavras repetidas e que não me ficam cá dentro. Vejo, nítido como água, que me falta identificação. Se calhar, o problema é mesmo meu, reconheço. Se calhar, esta mania de encontrar substrato em tudo, já é velha e está ultrapassada, se calhar, esta saudade de gente assim é só isso, saudosismo. Mas mesmo assim, ainda que assim seja, continua a ser só disso que sinto falta. E pronto.