“Volta e meia, meia volta”, nas escolas, lá nos batemos de frente com situações limite. As violências domésticas, a fome, a negligência familiar, a pobreza de meios e de expetativas, as dificuldades de aprendizagem, os comprometimentos sérios e efetivos (seja por que motivo for), os conflitos interpessoais, as dificuldades de gestão emocional, enfim… Estas situações estão sempre lá, sabemos que sim, identificamo-las em muitos alunos e alunas, mas depois, há ocasiões em que, elas, essas situações limite, ganham uma forma ainda mais nítida, ganham cheiro e toque e nome próprio e, como uma gota de água que faz transbordar um copo, batem-nos na cara e fazem-me, de novo, pela enésima vez, suspirar para dentro e pensar “- Meu Deus, mas o que é isto?”, “- Que escola é esta?”, “- Ao que a escola está obrigada?” “- Isto é possível?” “- Como equilibrar?”
E fico assim meia atordoada, num género de limbo, sem conseguir discernir com rapidez o que fazer: nivelar as aprendizagens? Assegurar conteúdos? Elevar a fasquia? Promover um ambiente escolar exigente, arrojado, curioso e desafiador? Sim, porque a escola também tem de ser isso…. Ou mantemos, para tantos alunos só este “limiar da sobrevivência?” Da sobrevivência destes miúdos e destas miúdas que sim, estão SÓ nesse limiar? Castrados já por disrupções sociais e familiares de tal forma graves que lhes inviabilizam futuros (auspiciosos, pelo menos…), lhes limitam horizontes e lhes tornam menores os sonhos? E como meter tudo isto na escola? Como tornar inclusivo este cenário escolar onde têm que caber todos, estes e os outros, os tais que também lá estão e que, com pleno direito, querem aprender e evoluir? É que inclusão é também manter e respeitar as diferenças e necessidades de todos, não só de uns, não só dos mais frágeis…
Às vezes, exaurida pelo cansaço, não sei responder. Só sei que em muitos casos, a escola (e eu e nós…) já não podemos fazer mais. Não há mais respostas, já nos transcende. E então penso que às vezes, talvez baste sentir o cansaço, para me sentir viva e estando viva, continuar a lutar.
Pois…