Vivemos numa era em que a informação é abundante e, paradoxalmente, a compreensão crítica dessa informação é cada vez mais escassa. A literacia mediática surge como uma necessidade urgente para qualquer cidadão que queira interagir de maneira consciente e responsável com o mundo digital. No entanto, a realidade mostra que ainda estamos longe de alcançar níveis satisfatórios de literacia mediática, tanto na sociedade em geral quanto em instituições essenciais, como a Igreja Católica.

A literacia mediática vai além de simplesmente entender como funcionam os meios de comunicação. Trata-se da capacidade de analisar, criticar e, se necessário, gerar novas narrativas, sempre com um olhar atento à veracidade dos fatos e à ética envolvida na produção e difusão de conteúdos. No entanto, muitos continuam a consumir passivamente o que lhes é apresentado, sem questionar a origem das informações ou as intenções por trás delas. Isso abre portas para fenómenos perigosos, como a disseminação de desinformação, notícias falsas e a manipulação de massas através dos meios digitais.

O papel da Igreja Católica no campo da literacia mediática é tema de debate. Enquanto instituição com grande influência sobre milhões de pessoas, a Igreja enfrenta o desafio de adaptar-se ao ambiente digital de forma efetiva. A evangelização, que antes se limitava ao púlpito e às reuniões físicas, agora precisa acontecer também nas redes sociais. Contudo, é preocupante notar que a hierarquia da Igreja, em muitos casos, ainda carece das competências necessárias para lidar com a complexidade do mundo digital. É essencial que os líderes eclesiásticos, assim como os leigos envolvidos nas missões pastorais, desenvolvam um elevado grau de literacia mediática para evitar que a mensagem cristã seja deturpada ou utilizada de forma inadequada no ambiente online.

Esse cenário não é exclusivo da Igreja, mas sim uma realidade comum a várias instituições que enfrentam a digitalização acelerada. No entanto, a Igreja, por sua natureza e relevância histórica, tem um papel diferenciado na sociedade. Ela não apenas pode, mas deve ser uma mediadora na construção de um espaço digital mais ético, combatendo ativamente a desinformação e promovendo um diálogo saudável e construtivo nas redes sociais.

Infelizmente, há ainda uma resistência em certos segmentos, tanto religiosos quanto laicos, à plena adoção de uma postura crítica em relação à comunicação digital. A tentação de “condenar tudo” e refugiar-se em um conservadorismo estéril impede que essas instituições se adaptem às necessidades da modernidade. Por outro lado, o excesso de entusiasmo tecnológico, sem a devida prudência, pode levar à adoção irrefletida de tendências passageiras, que carecem de substância e comprometimento ético.

O verdadeiro desafio que enfrentamos não é simplesmente utilizar as novas ferramentas digitais de maneira eficaz, mas sim viver de forma consciente e ética dentro dessa nova realidade. É possível e necessário encontrar um equilíbrio entre tradição e inovação, entre espiritualidade e tecnologia. A literacia mediática, neste contexto, é a chave para garantir que a nossa presença no ambiente digital seja uma extensão coerente dos valores que prezamos no mundo físico.

A literacia mediática, no fundo, é uma ferramenta de empoderamento. Ela permite que cidadãos, religiosos ou não, tomem decisões informadas, questionem o status quo e participem de maneira ativa na construção de uma sociedade mais justa e inclusiva. Sem ela, corremos o risco de nos tornarmos meros espectadores, manipulados por algoritmos e interesses comerciais. Com ela, tornamo-nos autores de nossas próprias narrativas, capazes de influenciar positivamente o mundo ao nosso redor.

Portanto, a educação mediática deve ser vista como uma prioridade em todos os níveis, da educação básica às formações de líderes religiosos e sociais. Só assim poderemos garantir que o mundo digital seja um espaço de diálogo, verdade e transformação positiva.