(Sinceridade emocional, urgente…)

Há coisas que nos ficam cá dentro a “ruminar”, vão cozinhando em lume brandinho, o botão no mínimo para a chama pequena do fogão a gás, ou no ponto 5, em algumas placas de indução. Vão ficando, ficando e, ao contrário do cozinhado que apura finalmente e se desliga ao fim de horas, aquelas outras de que falo, nunca ficam resolvidas. Não chateiam grandemente, mas estão lá. Tapamo-las, ou pomo-las numa gaveta interior que optamos por não abrir, como aquelas que temos em casa, desarrumadas por dentro, mas arrumadinhas por fora, a um cantinho, sossegado. E a vida segue, sem grande mossa, com essa presença quase indolor, mas certa, como os sintomas (“quase assintomáticos”), que só de vez em quando nos fazem lembrar da doença.

E estas coisas, todos temos. Vindas daqui e dali, uma mossa, uma má interpretação, um melindre, um dizer-que-não-se-disse, um ter de explicar a intenção, um sentir que se vai repetindo, um intuir que persiste, um mal-estar tolerável. Enfim, na teia de acasos e casos que a vida tem e que as relações transportam, todos temos momentos e episódios e coisas que não estão resolvidas. E aqui entra a natureza de cada um: há uns que têm que falar, esclarecer, dizer e “despejar o saco”, esperando por um alívio que esse desabafo dá, uma transparência emocional que sossega e legitima depois o seguir em frente, com o caso resolvido; e há outros que continuam a “caldear” a coisa, à espera do melhor momento, à espera da certeza das mais-valias da conversa, à espera que a coisa se resolva por si, ou que, levada pela bruma do tempo, deixe de fazer sentido falar nela.

Pois é… de facto, a natureza de cada um determinará sempre a quase totalidade de respostas que damos às coisas e a forma que essas respostas têm ou não. E é inútil fugir à natureza. Terá sempre uma força grande em nós. Mas é útil estar atento à forma como cada um pode moldar essa natureza para melhor, a forma com que pode, teimosamente, contornar o seu instinto, forçar à resposta diferente, ou porque já percebeu que melhorará se assim fizer, ou porque quer experimentar uma solução nova, ou porque se sente atraído pelo ideal da transparência emocional.

No fundo, o que acho importante, é cada um perseguir e ansiar por essa transparência emocional, pela cultura da frontalidade, pela sinceridade interior. E é difícil, isto. Muito difícil. Diria que é um caminho que não tem fim. E diria também que a família, os irmãos, os filhos, os pais e as mães, os tios, tias, primos e primas, os amigos mais chegados, os colegas nos trabalhos, podem ser, quem sabe, ótimos agentes para treinos disto, quase uns “personal trainers” que nos fazem experimentar este desafio, tentando, aos bocadinhos, desenvolver esta capacidade.

E depois disto, deste treino, como num efeito de lume brando, quem sabe não apuramos melhor o sabor desta competência, não técnica, mas emocional?

Tão importante, isto…