“Em que é que a música te aproxima de Deus? Em tudo”. Foi assim que o maestro António Alves Pereira resumiu aquela que foi a sua “partilha inspiradora”, no passado dia 22 deste mês no Centro Pastoral da paróquia da matriz de Portimão, respondendo diretamente à questão que serviu de pano de fundo àquela iniciativa: “Pode a música aproximar-nos de Deus?”.
“O que é que a música faz em relação à minha religiosidade? Aproxima-me? Claro que sim. Creio que quando as pessoas ouvem qualquer coisa que é agradável, elevam-se, «tiram» os pés do chão quase literalmente porque, efetivamente, a música transporta-nos lá para cima. A música é das poucas coisas que nos faz, se calhar, chegar perto de Deus”, afirmou o músico de 62 anos, natural de Portimão, que dirige o coro da paróquia da matriz da cidade e é também diretor artístico do Grupo Coral Adágio.
António Alves explicou que ter nascido e sido criado num “ambiente de música doméstica”. “Houve sempre música na minha casa”, contou, acrescentando que aos 11 anos começou a estudar piano no Conservatório Regional do Algarve. O facto de ter tido como catequista a sua professora de piano acabou por influenciar a sua caminhada cristã. “Foi uma pessoa extremamente inspiradora para mim e foi uma das pessoas responsáveis por eu ter continuado a vida cristã”, testemunhou.
O maestro lembrou ainda que aos 14 anos fundou um coro na paróquia e a importância que teve o pároco de então, o padre João Matos. “Era um homem de uma cultura profunda que teve a clarividência de nos deixar tocar nas missas”, afirmou, lembrando também a relevância da irmã Maria Emília Mesquita no seu regresso à Igreja, após um período de afastamento em que fez uma incursão pelo Judaísmo. “Aprendi muita coisa de que hoje me sirvo porque me sinto mais forte por isso”, reconheceu, acrescentando: “voltei ao coro da igreja porque a Maria Emília pediu-me para ir cantar numa Páscoa porque não tinham quem tocasse. Toquei na Páscoa, fui tocando e ali fiquei”, recordou, explicando que enquanto tocava realizou uma “uma busca interna” que o fez “pensar sempre muito”.
Sobre a importância de pessoas que marcaram a sua vida, referiu ainda a professora Hélène Gui. “Foi responsável por eu ter muito respeito pela música”, garantiu.
O músico advertiu para a necessidade de não confundir espetáculo com oração. “Na Igreja, muitas vezes confundimos um espetáculo com oração. Eu não estou num coro de uma igreja num espetáculo. Às vezes, pelo receio de se fazer um espetáculo, não se fazem certas coisas”, lamentou, acrescentando: “nunca faço como espetáculo, mas sempre como partilha, como uma ferramenta que me faz chegar a Deus. A mim e aos outros. É esta música que me faz andar para a frente, estar aqui hoje, chegar mais perto de Deus e puxar os outros para mais perto de Deus”.
Partindo do relato bíblico do livro do Génesis, lembrou que Deus criou através da palavra e que a palavra é som. “É bonito pensar que Deus me criou através dos sons”, afirmou, acrescentando que para si a “melhor forma de música” é a vocal. “Quando canto, sinto me bem. Quando ouço cantar, sinto-me muito bem”, confessou, considerando que “o silêncio também é música”.
António Alves realçou ainda a importância da educação musical na sua vida. “Uma das paixões da minha vida é dar aulas”, admitiu aquele professor que leciona a disciplina desde 1981 no ensino público e na Academia de Música de Portimão, de que é cofundador.
O maestro realizou o Curso Geral de Piano no Conservatório do Algarve e a licenciatura em Ciências Musicais na Universidade Nova de Lisboa. Completou o mestrado em História Regional e Local (Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa), tendo defendido a sua tese sobre “A Sé de Faro – Homens e Ação Musical (1716/1738)”.
com José Cardoso