
O franciscano Martín Carbajo disse ao clero do sul do país que está a formar-se uma “nova cultura mediática”, um “novo modo de ser e de pensar”, considerando que o sacerdote tem que inserir-se nela para “humanizá-la”.
Na atualização do clero das dioceses do Algarve, Beja, Évora e Setúbal, que decorreu no hotel Jupiter em Portimão, o especialista na área da ética da comunicação social frisou que “as redes sociais são instrumentos” e “não meios de comunicação”, exortando o clero a “aprender a usá-las de modo responsável para que sejam fator de humanização”.

Martín Carbajo exortou assim bispos, padres e diáconos a adquirirem um “sério conhecimento da linguagem própria” dos meios digitais, explicando que estes já foram acolhidos por cerca de 13 mil milhões de pessoas, mais de 40% da população mundial.
“É necessário aprender a viver e a expressar-nos como cristãos neste novo ambiente digital, no qual todos estamos emersos. Isto implica conhecer as suas linguagens, dinâmicas e símbolos. Não podemos continuar a usar os mesmos símbolos de sempre”, advertiu.
Na primeira conferência que proferiu sobre o tema “Redes Sociais e Comunicação Social. Cuidados a ter e apostas a fazer”, o docente da Pontifícia Universidade Antonianum (Roma), deixou claro que “as redes sociais são espaços antropológicos nos quais se constrói a própria identidade” e que “está a criar-se uma fraternidade digital”. “A comunicação não é uma questão técnica, mas antropológica”, sublinhou.

Mas ao desafio que dirigiu, acrescentou a interpelação: “como é que um sacerdote ou um religioso deve entrar na rede? Como qualquer outro?”. “Creio que não”, respondeu, considerando que “deve manter um certo pudor psicológico e emocional para que todos vejam o horizonte para aonde aponta, em vez de converter-se no centro da atenção”.
Lembrando que alguns autores consideram que a humanidade, a “multidão solitária”, está a viver o período da “sobremodernidade” com a “cultura do excesso”, sofrendo de “info-obesidade” ou “bulimia de comunicação” com o “dilúvio de informação”, destacou que “as pessoas têm sede de autenticidade, querem testemunhas”. “O âmbito digital favorece isto e reforça a importância do testemunho. Portanto, temos de recuperar essa comunicação misericordiosa”, acrescentou.

Neste sentido exortou o clero a “passar da informação à narração”. “Temos de ajudar os nossos fiéis a narrar, ajudar as pessoas a ver a sua vida como história de salvação, a não se perderem num ‘WhatsApp’ contínuo”, sustentou, acrescentando ser preciso “aprender a recuperar os valores que a tradição da Igreja viveu e perguntar se continuam a ser válidos”.
O religioso lamentou ainda a “lógica comercial e materialista das multinacionais que controlam os meios de comunicação social”, que “procuram, sobretudo, o benefício económico e não o serviço à verdade”.
A atualização do clero das dioceses do sul, que hoje terminou, contou com cerca de 120 participantes, incluindo, para além dos bispos das quatro dioceses, o bispo emérito da Diocese de Singüenza-Guadalajara (Espanha), D. José Sánchez González, que também esteve presente.