Faz parte da grandiosidade humana admitir os seus erros. Não se trata de uma humilhação, mas de uma demonstração de carácter. E quem não reconhece os seus erros é alguém sem carácter. No entanto, muitos Homens e Nações, que são constituídas e definidas por Homens (apesar dos esforços de alguns, os animais ainda não se governam sozinhos a não ser na literatura orwelliana) temam em defender a perfeição a partir do seu olhar e da sua vida como os Fariseus na passagem evangélica da mulher adultera recente escutada por alguns de nós. No entanto, Portugal e outras grandes nações tem reconhecido, desde há 50 anos a esta parte os seus pecados na história da Humanidade. A própria Igreja, com o Papa João Paulo II, reconheceu os erros e as atrocidades cometidas sobretudo no período da Inquisição e perante alguns povos como o Povo Judaico. Hoje como nação, ninguém questiona que foi um erro tremendo a todos os níveis, desde desumano até económico, a expulsão dos judeus ou a sua conversão cristã forçada no séc. XVI (a única coisa boa foi o surgimento das alheiras). Mesmo a Alemanha reconheceu os seus pecados e erros que originaram tantas mortes no séc. XX. E a Europa na sua globalidade está neste momento a fazer o seu processo de “mea culpa” do longo período de esclavagismo à custa das terras descobertas e exploradas no período dos descobrimentos e povoamento europeu fora da Europa. Este processo até está a ser bastante controverso devido ao facto de muitas vezes não se olhar para esta questão com o devido distanciamento histórico.

Porém na Rússia, alguém entendido na matéria demonstrou-me que não há, nunca houve e “pessimistamente” nunca haverá um processo de reconhecimento dos seus pecados históricos. Para a Nação Russa a sua história é feita exclusivamente de grandiosidade. Ninguém questiona as atrocidades cometidas pelos Czares, o terror do período bolchevique, a exploração do povo com os planos quinquenais, a perseguição política até 1989 e a deportação e “reeducação” nos campos gulags. A história da nação russa é somente contada internamente como sendo uma história de total sucesso e prosperidade.

O mesmo aconteceu com os Fariseus e acontece connosco hoje. Para os Fariseus só aquela mulher tinha pecado, esquecendo até que para cometer adultério é preciso duas pessoas, ou os pecados que eles cometeram sem que ninguém soubesse. E nós que temos tanta dificuldade em analisar e confessar os nossos pecados, embora sendo cruéis com os outros, não podemos ser como o Will Smith que se limitou a esbofetear quem supostamente se limitou a fazer uma piada sobre a sua mulher, esquecendo as vezes que ele próprio ofendeu a mulher cometendo adultério e as vezes que ele gozou descaradamente com outras pessoas, esquecendo que o dinheiro não compra educação e carácter. A uma piada responde-se com outra piada.

Neste tempo propício para a reconciliação sacramental não podemos esquecer de pedir perdão por todo o que pecamos e só depois, se ainda tivermos forças e coragem, apontar o dedo aos outros. Os Fariseus não tiveram, mas nós, como somos mais santos do que eles, até podemos vir a ter.

Desejo-vos Uma Semana Santa próxima da Redenção de Cristo